quinta-feira, 12 de outubro de 2017

A Thousand Years e um solo na sanfona




A fotinho é pra mostrar o coraçãozinho lindo que você fez pra mim de uma folha de árvore que catou na rua. Vc fez eu virar de costas pra me fazer isso como uma supresa, mas vc já me deu uma meia dúzia de coraçãozinho desse aí e não lembra. Fiz cara de #aiquelindomeuamoreunãopoderiaterdesejadopresentemelhor, mas sim, amor, eu já tinha visto. Viemos pro café da manhã e tava tocando Thousand Years. Instrumental. Baixinho. Lindo, lindo. Só que aí nóis pegamo um filão cada um (dos OITO que nóis comemo) e vc começou a cantar a musiquinha do bacalhau. Eu morri de rir. Alto.

Muito alto. E a musiquinha linda e romântica tava baixinha demais, o que fez minha risada virar um escândalo. Todo mundo olhou e vc continuou com cara de #uéquefoinãotevetantagraçaassimmedeixecomermeufilão. E fez outra piada em seguida, numa clássica atitude de quem já enjoou de passar vergonha por causa da minha risada sempre elegante.

Com isso despeço-me, na certeza de que foram os 17 melhores anos dos 22 que estou com você te fazendo passar vergonha por aí. 

Te amo mais do que quando eu tinha 13, que foi quando te amei pela primeira vez.

Deus sabia que eu precisaria de você todos os dias.

#tinhaquesernoDiadasCrianças #ésempreferiadononossodia #euaindateachoohomemmaislindoqueeuconheço #aindaamoseucheiro #esuavoz #enossavozcantandojuntosviraumasó #nãoseiondeterminaeueondecomeçavocê #termineiassimporquevocêamahashtags

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Meu querido. Meu velho. Meu amigo.




Sabe o que ele tá tocando/cantando, Dad?! Hahah! RobeRRRRto CaRRRRlos!! Rá!! Exatamente como cresci te vendo fazer: viola em punho, Robertão na playlist! E bora ser feliz!

Eu sonhava com isso, né... Vc foi meu primeiro grande amor, e eu queria um marido que fosse que nem vc. Senão eu não ia casar. E vc me conhece: eu não ia mesmo! Haha! E eu dei tanta sorte... Deus foi e é tão bom comigo! Por sua causa eu pude aprender sobre o amor Dele desde tão cedo. 

Eu celebro tanto o dia dos Pais. Não só pq eu posso celebrar de forma especial o meu Pai Celestial. Não só pq eu celebro com tanta gratidão o pai que me filho tem. Que é o mais incrível!

É que eu celebro, na verdade, um sem-fim de coisas.

Tipo ter um pai que não perdia um jogo no Colégio (mesmo eu sendo a pe-ór jogadora de vôlei da história do Dom Bosco).

Um pai que me incentivava a tentar a carreira de paquita da Xuxa (ainda que, cá entre nós, nem pra  anti-propaganda de Cogumelo do Sol o meu shape serviria, vá! Mas vc sempre me achou linda, né?).

Um pai que tocava violão pra eu cantar desde pequenininha.

Que me levava no colo da sala pro meu quarto até, sei lá... meus 70kg!

Que sempre confiou e acreditou em mim.

Que me derrubou dum penhasco em Peruibe quando eu tinha 6 anos (porque às vezes algumas coisas saem meio errado, né... Atire a 1ª pedra quem nunca derrubou um filho do penhasco, pow!).

Que me ensinou a dirigir com 11 anos.

Que contava historinhas intermináveis pra eu dormir (a do Ônibus Musical e do grilo que tinha uma trouxinha de viagem eram clássicas).

Que me levava pra praia na TL sem assoalho (TL cor de manteiga, que tinha volante, banco, e um limpador de para brisas que não funcionava. É que a essa altura eu já tinha sido derrubada do penhasco e já era mais resistente, convenhamos!).

Que foi com o Marcelo peitar o folgado que mexia comigo todos os dias qdo eu era ainda solteira e esperava o ônibus pro trabalho às 6h.

Que eu tinha mais medo do silêncio do que da bronca.

Que até hoje fala forçado que me ama quando a mamãe me liga (a gente consegue deixá-la irritada, né? Hahah).

Que dançou comigo a valsa da 8ª série (porque no 3º colegial nóis um tinha a grana pra formatura).

Que segurou forte minha mão qdo a porta da igreja abriu a caminho do altar.

Que é o "Vô Mais saudável" do meu filho.

Que é o "meu Moisés" do meu marido.

Que, pros 3 filhos, é o MELHOR pai do mundo (desculpe se tu fala isso do seu também. Na verdade... o meu que é!).

Que é o MEU amigo de fé, meu irmão camarada. E, olha que engraçado: agora você tem mesmo os cabelos brancos que eu sempre cantei nas cartinhas inspiradas na música do Robertão! E seu olhar (que agora tá, tá cansado! Rs) profundo ainda me diz coisas.

Meu querido. Meu velho. Meu amigo. Meu primeiro. Meu sempre. Minha lição. Minha escola. Meu maior fã. Que vai durar pra sempre, pq meu prometeu isso!!

Happy Father's Day, my dearest!

(pro pai que sempre quer saber "como fala isso em inglês, filha!" Haha!)

Love you! Til That Day! And thru the eternity!

domingo, 30 de julho de 2017

Avisa pa Vinicius que passei uma tarde em Itapuã, meolindo!



Aqui tudo é mais. Côco é mais côco. Praia é mais praia. Azul é mais azul. Tempo é mais tempo. Calor é mais calor. Fruta é mais fruta. Descanso é mais descanso. Alegria é mais alegria. Preguiça é maaisss.... zzzzz!!! Acarajé... bem, acarajé É. E só "é" mesmo, porque não tem acarajé "menos" em lugar nenhum. Acarajé tem que ser aqui. O dos outros lugares é só receita. 

E aqui, gente feliz é mais feliz. Parece que tem a ver com "ando devagar porque nunca tive pressa mesmo". Aqui todo atendente, de qualquer lugar, tem um riso e uma história pra contar. Um comentário a fazer. Tem sempre um braço estendido na sua direção. O baiano acha uma graça incrível em servir! Todo mundo que é daqui gosta de ser daqui. Pra eles, os loucos somos nós, paulistas apressados. 

Aprendi desta vez que 70% de todo o consumo de frutas e verduras daqui é suprido pela agricultura local/familiar. Ele come da sua terra, ele ama a sua terra. Isso explica tanta coisa. 

Vá comer vatapá na praça Caymmi (com preguiça no corpo) e saiba tudo que a baiana tem, porque ela ta preparando tudo pra tu, meolindo, mialinda. E ela te conta. E ela enrola, desenrola, amasseta, frita, prepara tudo com destreza enquanto te conta meia dúzia de histórias que te deixa hipnotizado e... sem pressa nenhuma. De ir embora. Da vida. De nada.

Aí tem um cara tocando teclado em Itapuã. Música ruim, que na Bahia fica uma delícia de ouvir. Só tem nativo no barzinho. De turistas só somos nós. Do lado, a mulé do sorvete. Ela espera clientes e, quanto isso, dança e aplaude o tecladista que cumprimenta - no microfone - 5 de cada 10 transeuntes. São conhecidos dele. A mulé do côco dança também. Sozinha. O hóme do amendoim cozido no limão também da uns passinhos com uma mão no ar e a outra na barriga. Ele rodopia a liberdade, que é sua parceira de dança. A minha liberdade é ter salário. A dele é passar uma tarde em Itapuã.

Mas é 6ª feira à tarde, tem sol, então o baiano desfruta de ter praia. Senta ali, e espera o sol ir embora pra ir também. Ou não, quem sabe. Ô, povo grato. 

Mas não arrisque nada muito desafiador, tipo um milkshake num stand do Bob's; a menos que vc ache graça de demorar 12 minutos pra ser atendido, mesmo com 3 pessoas sorridentes te atendendo. Aí falta destreza. É curioso. É que nem comprar moqueca em restaurante paulista. Vem bem, vem certo, mas vem sonso. Mesmo carregado de tempero, é sonso. Num tem dedo de baiano, é sonso. Do mesmo jeito que na Bahia o milkshake supersônico do Bob's vem com 'delay'. 

Em alguns lugares é sujo, feio, fedido e desorganizado. Claro que é. Como em alguns bairros da minha cidade, aliás. Mas, uai, não vim falar disso, mesmo.

Vamos embora encantados. E não é (só) conversa mole de turista não. Já é a nossa 4ª vez aqui. E, de novo, deixamos avisado que é pra colocar mais cebola no charque, mais açúcar na cocada mole. Porque, se Deus quiser, já já a gente volta!

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Doilão e um pacote de arroz caramelizado

Meu professor me contou naquele dia que era aniversário de 9 anos da filhinha dele. Suspirei de saudade dos 9 anos do meu filho. E ele, meu professor, quis saber o que tanto mudaria dos 9 aos 13. 
Uai... mas que pergunta mais fácil, de resposta mais óbvia. Dã!!!!
Eu tenho saudade porque... 
Na verdade as fases mudam, e o que muda é que...
É que, se a gente pensar bem...
E numa reflexão ainda mais profunda, a gente vê que o que muda mesmo é... 
Boa!!! Isso aí, amigão!!! Não sei responder. 
Eu tenho uma dorzinha que deve ser saudade. Ou é alguma coisa perto disso. Ele, meu filho de 13 anos, tá diferente. Mas no quê, afinal?! O que mudou!? Do que eu sinto falta?!
Eu não fico sentindo saudade do passado. Não sou desse tipo.
"Ai, porque naquele tempo..."
Ah, gente... naquele tempo naquele tempo. Passou. Já foi. Boa.
A única coisa do passado que eu queria é colágeno na cara. Só.
Não coleciono cartinhas e memórias. Tenho memórias até de menos, aliás. O suficiente pra ter esperança. E só.
Eu sou muito intensa. Pra mim é hoje. É tudo. É muito. É muito de tudo. É agora. Amanhã não sei. Ontem passou.
Então, tenho lembranças incríveis de cada fase do meu filho, mas não sinto aquela saudade que cutuca a alma da gente que nem unha encravada no inverno. É aquele gostosinho que dá quando a gente olha foto da infância pobre no Bairro Alto, sabe? 
Mano do céu... porque eu não sei tu, mas aqui era uma pobreza que tu certamente respeitaria.
Esses dias eu fucei a mochila do menino e achei um monte de nota de doilão (doilão = R$2) espaiada. um monte. Cheguei juntar doze real, mermão. Doze real em notas de doilão amassadas. Esquecidas. Sujas. Tão desvalorizadas quanto aquele montinho de notinha inútil de crédito/débito que ficam no console do carro quando a gente abastece o tanque.
Meodeos, quanta diferença na realidade de uma geração pra outra... Ah, se eu tivesse doilão nas tardes da infância na Alfredo Guedes pra descer no seu Toninho e comprar um pacotão de arroz caramelizado... Doilão era ouro! Se fosse naquela época a mulé sem zoio da cédula não ia ter aquela cara de sofrência não. Ela ia é sorrir esnobe, tipo blogueira patrocinada, de tanto valor que ia ter na minha mão. 
Eita, mai do que a gente tava falando mesmo!?
Ah, sim. Do menino. De sentir saudade. De não sentir saudade. Do que tá diferente agora.
Eu gostei de estar grávida. Amei ter tido um bebê. Curti muito cada segundinho da infância do meu menino. E agora tô curtindo de verdade ser mãe de um menino grande.
Tô aprendendo sobre essa autonomia, na verdade. Eu sou quase tão livre quanto eu era antes de ser mãe, e ainda estou me ambientando com não ser mais tão importante. Sempre repito pra ele a mesma máxima: "Filho, você tá aprendendo a ser adolescente, e eu tô aprendendo a ser mãe de adolescente. Nunca tive um filho de 13 anos antes. Você é minha primeira experiência, e é em campo. Bora juntos: tenha paciência comigo. Tenho com você. E seguimos na parceria".
E tenho paciência mesmo. De verdade. Sempre fui muito longânima como mãe. Eu lembro, quando ele era pequenininho, de ter ouvido um sem-fim de vezes a expressão "nossa, como você tem paciência, né...", que eu sempre soube querer dizer outra coisa. Quando alguém dizia isso eu sabia que era a versão publicável do "porque você não dá uns tapas e pendura de cabeça pra baixo esse menininho insuportável que poderia abastecer uma vila inteira de pescadores em Noronha com o tanto de energia que dele emana", sabe... Eu sei que era isso.
Mas eu nunca achei que ter energia era um problema. Repreendia meu filho quando ele faltava com a educação, ou quando ele fazia algo que pudesse machucá-lo. De resto, sempre entendi as fases. Sempre entendi o movimento (sem fim) da infância. Alguma coisa dentro de mim sempre me avisava que aquilo ia acabar. Como, de fato, acabou. 
Não tem mais correria aqui em casa. Nem brinquedo espalhado. A briga agora é pra organizar (os escombros d) o quarto, mas não tem mais movimento e barulho. Até tem, claro, mas é menos. Muito, muito menos. É diferente.
Então... se eu sou esse poço de controle do tempo e das emoções (Ui! Ela não sente saudade! Ui! Ela não se abala! Ui! Senhora do Tempo! Ui! Dona de Si! Ui! Gretchen!), então porque suspira quando o fio dozôtro faz aniversário de ser criança?
O que, afinal, dá o gostinho amargo no gostosinho de ver o filho crescer?
Ele ainda mora comigo. Ainda tá debaixo das minhas asas. Ainda controlo, vejo e sigo. Ainda fazemos tantas coisas juntos. Ele ainda deita na nossa cama pra assistirmos seriado: ele, o papai e eu. Ainda me conta as coisas. Ainda oramos juntos. Ainda me acorda na madrugada quando alguma coisa aflige seu coração. Ainda sentamos juntos pra fazermos nossas refeições.
Ainda amamos estar na presença um do outro. 
Então o que é? O que falta? Onde dói, afinal?
Pensa... pensa... pensa... peeeeensa, diacho! 


E quer saber? Eu descobri!
Descobri onde dói. Descobri o que dói. Eu sei o que é!
A coisa difícil de ver filho crescer é...
ver o filho pecar! É isso! 
De pequenininho eles erram. Abusam. Afrontam. Mas não pecam. Não deliberadamente. São pequenos pecadinhos acidentais, impensados, sem relevância jurídico-penal-celestial.
Grandes, estreiam nessa vida bandida de lutar pra ser santo todo dia. Tu luta!? Poutz! Eu luto! Tu lutas! E nem deu tempo de 'ele luta' e eu tô aqui, lutando de novo!
Só que, nessa fase, começam a pecar e não fazem tanta força contrária assim. Não tem tanta noção prática nem de um lado - o de pecar - nem de outro - o de lutar pra não pecar.
E assistir a isso é difícil. É amargo. Da insegurança. Causa dor. Desconforto na alma. Sensação de impotência.
Agora cada vez mais é entre ele e Deus.
Ainda oramos juntos. Temos devocionais diários em família. O exemplo de vida dele é um grande homem de Deus que nós dois amamos e admiramos (o pai, meu marido, meu amor). Masssss... sim: é entre ele e Deus. Nas férias ele passa noites no computador. É entre ele e Deus. Ele vai em lugares em que não estou. É entre ele e Deus. Ele em um celular. É entre ele e Deus. 
Uns poderiam pensar que não confio no que fiz por/com ele até aqui.
(aliás, poutz... se tu pensaria isso tu é um chato nível hard, tá? Chato nível Zorra Total. Saiba disso). Eu confio. Mas seria o mesmo que dizer que eu peco porque Deus não fez o trabalho Dele direito comigo.
Ele fez. Ele faz. Mas eu peco. Desde os 13 anos eu peco. Há momentos que peco mais. Outras épocas sigo bem. Mas vou assim até Aquele Dia.
Logo ele vira adulto, e vou ter ideia de onde deu tudo isso.
Mas esse interim é difícil, te garanto.
Eles descobrem que tem asas, que podem ir e vir, que podem ter opinião, e que podem fazer um monte de coisa escondida que a gente nunca vai ficar sabendo.
Então, enquanto assisto influencio no que eu consigo em relação às coisas que acredito. Tenho minha própria vida com Deus, no íntimo. No meu secreto. Em casal. E ele vê, ele sabe.
Não tomo e não sirvo refrigerante pas visitas. Ele vê, ele sabe. E oramos pelas refeições quando os amigos estão em casa.
Na vez dos meus netinhos (que terão de ser 3 pra compensar a penca de filhos que não consegui ter) eu vou saber te contar onde essa história deu, meu filho! Só vou querer saber que você ama o seu Criador. No resto a gente da jeito. Quem sabe te sirvo um arroz caramelizado enquanto falamos a respeito.

terça-feira, 6 de junho de 2017

E se a vizinha exprodí?!




Academia do prédio. Eram seis minutos de transport (quem faz transport nessa vida? É… Eu faço transport!)  E ela entrou. Entrou, não. Ela estreiou!!! Abriu a porta num solavanco, e entrou dando um boa noite bem alto. Estava toda equipada num corpo nada malhado. Mas era bem magrinha, bem bonitinha mesmo. Simpática, simpática. Eu, embora exibida e extrovertida, nunca sou capaz de chegar num lugar e conversar logo de cara com quem eu não conheço. Então, sempre sou fã de quem faz isso.


Ela chegou com tanta marra e tanta parafernália numa roupa de treinar tão incrível, que eu super tive a certeza de estar diante de uma autoridade de crossfit ou algo parecido. Qualquer coisa que ela falasse nesse sentido eu acreditaria. Largou as bugigangas todas em cima do rack de som, e logo soltou: "Oi! Como vão? Vocês são uma familia? Olha, eu nunca venho nessa academia… Nunca!", num ar de isso aqui é amador demais pra mim.
"Vocês moram aqui faz tempo? Treinam SÓ musculação mesmo (seus à toa - se pudesse ela diria, acho), ou fazem alguma outra coisa (que preste nessa vida, senti assim)?"

De todo modo, fui respondendo às perguntas porque tava achando graciosinha aquela conversa de vizinhas. A moça era sui generis, mas, como eu já disse, era bem simpática. E eu, que sempre me apaixono pelas pessoas no 2º minuto de conversa, já tava meio entregue. 

Mais meia dúzia de frases e ela subiu na bicicleta ergométrica. Dois giros no pedal, e pediu se poderia ligar a TV. "ESSE SILÊNCIO ME MATA!" (tá em maiúsculo pq ela sempre falava gritando).

Na verdade não tava silêncio... devia estar é muito chata aquela conversinha despretensiosa do casal de 40tões, né... Casal de 40tões = nóis, Marcelo e eu. Rá! Vai que alguém não saiba! Rá!

A Multishow tocava uns videoclipes bizarros, mas alguns deles eu reconhecia, fazer o quê. Tenha filhos adolescentes e você vai pagar a língua de um monte de coisa na vida. 

Reconheci uma musiquinha que a Alice canta de vez em quando, e perguntei bem baixinho pro meu marido quem eram aqueles três na TV. Bem baixinho. Bem. Mas, pro meu gelo na espinha a vizinha lascou: "NÃO CONHECE?! ANITTA, NEGO DO BORÉL E WESLEY SAFADÃO! ESSA É A PORCARIA DA CULTURA POBRE DESSE PAÍS POBRE!!!"
Pra escapar, tentei colocar a culpa na Alice: "... é que já ouvi minha sobrinha de 3 anos cantando, e..."
"SUA SOBRINHA?!?! TRÊS ANOS??!?!  COITADA!!!"

Ela tava ali, esbaforida no 6º giro da bicicleta (não tô falando de 6 voltas, 6 laps, como a gente faz na aula de spinning, não. Tô falando de giro: pé num pedal, pé no outro, e gira: 1, 2... 5,6!). Fiquei meio sem reação… Sorri com cara de choro, já fez essa cara?

Olhei pro meu marido que, por sua vez, já me sinalizou com o olhar: me tira fora dessa conversa. Dali pra frente eu teria de inventar os diálogos sozinha.

Tinha hora que eu achava que ia ver aquelas cenas de filme, que a pessoa começa a falar, falar, que a rotação da fala vai subindo, a voz vai ficando fininha e rápida, rápida, a cabeça começa a rodar em eixo, sai fumaça, e a pessoa explode. Sabe essa cena? Achei que eu ia ver.

Não eram nem 10 os giros na ergométrica e ela desceu. Subiu na esteira. Não conseguiu ligar. Desceu, deu a volta, socou um botão aqui, outro ali, e a esteira - sorrindo com cara de choro - ligou. A vizinha subiu na esteira e me perguntou se eu tinha WhatsApp. Me contou que ela criou um grupo de vizinhas sem filhos no WhatsApp. Achei legal, e perguntei o propósito do grupo. Pela primeira vez ela tomou um ar no diálogo. Aí disse, meio sem certeza, que tá tentando organizar um chá de vizinhas desde que criou o grupo. Achei fofo até ela me contar que não se lembra do rosto de ninguém que ela adicionou. Ela perguntou se eu queria fazer parte. Suada (de medo!), respondi que sim. Nem 30 segundos de esteira depois, ela deu um trote, uma corrida mais rápida, e desligou o aparelho! Desceu. Pegou a toalha, enxugou um suor que eu não vi, e foi pra máquina de treinar pernas. Socou, esticou, puxou, arrumou, desarrumou, colocou peso, tirou peso, fez barulho, prestou atenção na minha conversa com o Marcelo, deu palpite, trocou o peso de novo, e, enfim sentou. 

Então, disse que tinha um grupo de funcional que treinava na blablablá as blablablá todas as blablablá da semana. Perguntou se eu e o Marcelo gostaríamos de nos juntar ao grupo. Disse que duas vezes por semana era muito pouco pra ela, mas que o grupo era bem legal e que a gente tinha que conhecer. Depois de três empurradas em cada perna, ela desceu da máquina. Colocou um colchonete no chão, e se movimentou de um jeito estranho três vezes. Levantou e agachou mais três vezes. Olhou pra nós dois e disse que tinha terminado o treino. Meu transport marcava 24 minutos.

Pegou as tralhas, deu boa noite no espacinho que dava pra ver ozóio dela e saiu. 
Sem pegar meu WhatsApp.
Fez tudo e não fez nada.
Nem treinou. Nem fez amizade com a gente. Nem deu conta de todas as lições que queria nos ensinar em 18 minutos.
Vai trombar com a gente no elevador e nem vai saber que nos falamos um dia.

Não é o que a vizinha é ruim. Ela não é. Ela é ótima, aliás. É o que ela mostrou DE MIM!!!
Não sei se, no termômetro dela, tem alguma coisa errada. Vai ver tá tudo bem. Aliás, ela parecia muito bem resolvida e contente. Eu é que olhei pra ela e me vi em alguns dias em que só meus dois buraquinhos do nariz estão pra fora tentando respirar afogados na correria.

Só que eu tenho dado um jeito nisso. E já tem um tempo. É um pouquinho todo dia. Tem sido tão gostosinho baixar a rotação da vida... 

Quando eu paro, eu sou grata a Jesus. Quando sou grata a Ele, eu O amo. Quando eu O amo, eu confio e descanso Nele. E esse ciclo fecha.
Sempre fecha assim.

Então eu volto. Retrocedo. Subo pro meu andar. Desligo tudo e faço um chá. Não de cápsula Nespresso. Um chá de chá mesmo, que tem que esperar a infusão e esfriar pra ficar pronto. Um 'tea neighbor inspired'! (essa é pra tu colocar no Google translator, Dad! Haha! 💙)

Chamo meus homens. Sirvo uma xícara cada um. E desfruto do extraordinário poder do comum!

Obrigada, vizinha! Sua passagem relâmpago foi meu treino de alma do dia. De verdade.
Não me chama no WhatsApp que eu sou muito ruim de responder. Mas sei fazer um chá de flor de laranjeira que é uma belezura!
(só traz seu açúcar que aquincasa num tem).

#desacelera #menosémais #oextraordináriopoderdocomum
#slowdown #contemplaçãoécura #meuPaifaloucomigo


quarta-feira, 17 de maio de 2017

Devocional: eu de 40... elas de 20!



Semana 2 de 3
Dia 1 de 4
By Lila

Palavra:
“Porém Rute respondeu: — Não me proíba de ir com a senhora, nem me peça para abandoná-la! Onde a senhora for, eu irei; e onde morar, eu também morarei. O seu povo será o meu povo, e o seu Deus será o meu Deus. Onde a senhora morrer, eu morrerei também e ali serei sepultada. Que o Senhor me castigue sie qualquer coisa, a não ser a morte, me separar da senhora!”
‭‭Rute‬ ‭1:16-17‬

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Tô de TPM. Sabe no que ter TPM aos 40 é pior do que ter TPM aos 20? É pq vc tem 20 anos a mais de saco cheio de ter TPM.
 Mas é bom pra ficar sensível. Eu, q sou um trator rodando no automático preciso de tempos de luto pra me reconverter. Aliás, Day do céu!! Suas palavras de "Jesus não faz nada no modo automático" ainda ecoa aqui dentro de mim.
Vocês 3 Tem me abençoado tanto... (momento fofa!)
Enfim. Tô me rasgando em carinho pq hj quero falar sobre amizade.
Mulheres talvez não sejam os melhores exemplos de amizades. São competitivas. O que os homens são competitivos nos negócios, as mulheres são entre elas. Sempre observo. Sempre penso. Sempre fujo.
Estou numa fase muito diferente de vcs 3. Os próximos 10 anos de vocês serão de grandes acontecimentos e decisões. Os meus não. Não tenho mais expectativa de grandes feitos sociais: já casei. Já pari. Já fiz 2 faculdades e outros cursos grandes. Viajei pra outros países (esse eu ainda quero). Tudo o que, em maior ou menor escala, ainda vai acontecer com vcs.
O que posso afirmar tendo chegado 20 anos antes?
Que poucas coisas na nossa vida valem tanto quanto as amizades que a gente cultiva.
Os namorados viram companheiros (e eu sou tãoooooo apaixonada pelo meu! 😍😍😍) que - pega essa, Man! - param de dar assunto.
Filhos vão embora.
E tudo o que vc quer é umA parceirA pra caminhar com vc.
Você quer uma Rute pra chamar de sua.
Você quer alguém que deite na grama com vc pra fazer desenho de nuvem no céu com vc aos 50 (é, a Katia Cason fez isso comigo no picnic das famílias! Hahaha).
Você quer alguém que, ao olhar do lado, esteja pertinho de vc, ainda que em silêncio, só pq gosta da sua companhia (Amanda, mesmo picnic! Haha).
Você quer alguém que atravesse todo mundo pra te abraçar qdo é uma garotinha, e que continue fazendo isso qdo virar adulta. Emilia, no picnic e em todos os outros lugares no mundo.
Você quer ficar hipnotizada com a voz de anjo de uma menininha cantando que, quando elogiada, diz que a voz bonita é a sua! (num é linda a Day?!)
Você quer alguém que diga que irá com você aonde você for. E que terá o seu Deus como sendo o próprio Deus dela.
Alguém que deixe chorar sem fazer perguntas.
Que te lembre de pelo menos uma promessa do nosso Pai qdo o mundo ruir ao seu redor.
Alguém que te leve uma sopinha qdo vc estiver mal.
Alguém que não te faça cobranças.
Alguém que te de tanto de si, que te faça ficar em dúvidas sobre onde termina o que é dela e começa o que é seu.
Alguém que exorte meu pecado sem se preocupar se isso vai me aborrecer (Pv 27:5-6)
Alguém que ria das suas piadas, mesmo qdo ela não tiver graça.
Alguém que lembre A Graça.
Alguém que te de tudo isso sem pedir nem um minuto de volta.
E só há um jeito de encontrar essa amiga. Só um. Não tem, eu garanto.
Só pode ter UMA amiga dessa perto de você: VOCÊ mesma!!!
Você vai achar ESSA amiga qdo VOCÊ for essa amiga pra caminhar com aquelas 2 ou 3 (4? Rs) que vc escolher pra partilhar a vida nessa Terra. Pra trilhar com vc a "estrada das pedras amarelas".
Deus se alegra no servir. E não há - NÃO HÁ! - outra forma de se alegrar a não ser 1) na salvação e 2) no servir.
A gloria de Deus é visível qdo a amizade é serviço.
Se eu puder ser isso pra vcs no tantinho q caminharmos juntas, me carimbei como Rute pra vc. E isso fica pra sempre.
A maior riqueza, então, não é ter Rute. É SER Rute.
Seja Rute.
E eu, como Rute: Tô aqui. Podem acreditar. Só não me chamem depois das 21h, q vcs sabem: as 21h as galinhas dormem. Mas me chamem às 5h e canto uma musiquinha com amor de Jesus pra vocês!
Beijos col amor.
De Rute.
Para Rutes.

Musiquinha:
Sim, podem cair da cadeira: não escolhi um louvor! É uma música do mundo! Rá!
https://youtu.be/SHB0VIwDd54
Essa musiquinha é minha declaração pra vocês. Podem contar comigo de verdade. Como 1, 2 e 3. Estarei aqui pra ouvir. Pra cantar uma musiquinha (eu amo cantar musiquinha pra abençoar as pessoas que eu amo). Pra rir e pra chorar. Pra descobrir com vcs o sentido de servir. ❤

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Era lavanda. Virou frô!


Era nossa primeira vez em apartamento. Marcelo até já tinha morado, mas foi em SP, há muito tempo, por pouco tempo. 
A gente tava curtindo muito a novidade.
Era uma resposta de oração que pensávamos que não chegaria mais. E tava tudo tão certinho, tão casadinho. 
Ai, tão gostoso!
Móveis novinhos. Vizinhos. Eu nunca tive vizinhos. Tive a Dona Rosa lá na Casinha Linda, mas eu nem lembro mais como é o rosto dela. Pucevê que a gente não devia se falar muito.
Na Saldanha eu tinha o seo Djalma. Mas ele era mais parça do meu pai, e eu acho que nunca conversei com ele. É, nunca mesmo. E vizinho pra quem você não pode pedir um ovo não  é vizinho, né... é malemá o hómequemoralánafrêindicasa.
Enfim. Eu tinha uma vista linda. Eu amo a minha vista. 
Um porteiro vigiando tudo.
Um elevador pra chamar de meu. 
Lazer.
Tudo de aluguel. Mas tinha. Tenho. Tava feliz. Tô. E muito.
Na minha primeira entrada triunfal pelo portão da frente do prédio, eu fui surpreendida por um caminho de lavandas que ligava a portaria à entrada da minha torre.
Tão lindo!
Tão cheiroso!
Tão especial aquilo!
A gente já tava com uma sensação tão boa daquela novidade toda, e o caminhinho de lavandas era a cereja do bolo. Acho até que, a partir de agora, não vou mais chamar as coisas especiais de 'cereja do bolo'. Vou chamá-las de 'caminhinho de lavanda'. Dã. Que ruim! Desculpa. Pode ler até o final, não vou mais fazer isso. Prometo.
Enfim.
O caminhinho de lavanda era, pra mim, uma forma de boas vindas. Sabe qdo você vai num hotel bacana ('bacana' é uma gíria que, quando usada por alguém que tem mais de 40, quer dizer 'coisa de rico') e a arrumação do quarto tem flores com um bilhetinho de Welcome?
Tipo isso.
Eu passava por elas e aquele perfume me hipnotizava. Parecia que sempre que eu passava por ali um ventinho extra fazia aquele aroma chegar mais forte pra mim. Que experiência incrível de acolhida. Eu achava que era um mimo do meu Pai Celestial pra mim.
Alguém duvida que era?
E era tudo muito gostoso, porque estava lastreado por aquela sensação maravilhosaaaaa de 'oração respondida'. Oração respondida traz silêncio interior. Que delicia é o silêncio interior...
É ele que a gente quer sempre. E que às vezes é tão raro. 
É 'silêncio interior' o que a gente sente quando ora. Quando se conecta com o sobrenatural. Nada mais me dá tanto silêncio interior. 
Uma boa corrida me acalma sim. Fazer as unhas do pé também. Conversar com meu pai (o terreno). Ligar pro meu marido no meio do dia. Saber que meu filho está em casa (ou que ele tirou mais que 8 na prova). Perder 1kg. Comer amora do pé. Bife da Tchivone. Estacionamento vazio no shopping. Quando a Netflix abre sem pedir login e senha. Bateria cheia no celular. Fazer gente velha rir. Acordar achando que são 6AM quando ainda são 4AM. Achar 20tão no bolso. Cantar. Todas essas coisas me enchem a alma e me acalmam.
Mas 'silêncio interior' é um step além. Só experiências sobrenaturais me levam lá.
Então, eu passava no caminhinho e tinha silêncio interior. Era demais aquilo!
29 dias. Foi o tempo que durou minha experiência diária de silêncio interior.
O inesperado ruiu tudo! Uma notícia estranha nos roubou o chão e tudo perdeu a graça.
De repente a gente quase não tinha pra onde ir por um problema jurídico e burocrático que a gente não causou, e a alegria fez as malas e foi embora.
(Não é que não quero dar detalhes sobre o problema. Eu posso, mas o texto vai ficar cansativo com tanta informação. Vai por mim: não precisa. Mas se você quiser muito saber, me pergunte e eu te conto. Assim só você se enche com informações e a gente não enche todo mundo com isso. Haha! Você vai ver que eu tinha razão).
Marcelo e eu ficávamos caçando as migalhas daqueles dias felizes. A impressão é de que a gente nem tinha vivido aquilo. O cinza veio tão forte que a gente não lembrava mais como era a cor das coisas.
Quantas lágrimas no tapete da nossa sala.
Aquela vista linda da varanda continuava linda. Mas tinha um Q de triste. Porque a gente só olhava pr'aquele horizonte lindo pra clamar por socorro.
Curiosamente, depois de alguns dias trocando o caminho da Portaria, eu desci e... adivinha!! Não, adivinha!!! As lavandas haviam secado!!! Todas!!! Uma por uma!!!
Não tinham mais cor de lavanda. Estavam ocre. Já viu cor mais triste que o ocre? Pesquisa 'ocre' no Google. É um bege tentando virar cor.
As folhas também estavam morrendo. E tinha só uma lembrancinha de perfume. Lembrancinha. inha. inha.
Bati na Portaria e quis reclamar. 
"Hey! Vocês esqueceram de molhar as lavandas?! Que aconteceu, gente?! 6 tão doido?! 6 mataro as lavanda, mano?!"
Me explicaram que elas seriam arrancadas nos próximos dias porque estavam mortas desde a raiz. 
Nem discuti. Era a fotografia da vida real. Morta desde a raiz era como eu me sentia mesmo. Zero a zero.
A pior parte não era não saber pra onde eu iria com minha família. Não era saber como reparar aquele dano que nós não causamos, mas pelo qual provavelmente teríamos de pagar.
A dor era pensar num Deus tão ocupado que havia se esquecido de mim.
A dor era pensar não ter ouvido direito a direção que Ele havia dado pra nós. Era ter errado o alvo. Era estarmos sozinhos.
Orávamos, mas Ele não nos respondia.
Clamávamos, mas o socorro não chegava.
Eu sabia que Deus estava lá. Que Ele sabia e via. Que ouvia. Mas era a dor de, por alguma razão, o silêncio interior estar só do lado de fora. Ele não falava. Não nos respondia. 
E eu chorava a dor do meu Pai não me amar e não se importar comigo.
Chorava a dor de Ele ter se apartado de mim.
Chorava. Chorava. Sem lavanda. E com muito, muito barulho na alma. De ensurdecer. 
Arrancaram as lavandas. Era verdade.
Elas tinham morrido. E aquela terra ficou lá, como uma cova. Por vários e vários dias.
Eu não ouvia mas não parei de clamar.
Tinha um ruído, um movimento. Eu não via, mas eu sabia que tinha. Eu ficava entre o saber que tinha e o jurar que podia ter ouvido um sussurro vindo do alto. Na dúvida, eu seguia adiante. E adiante. E aquela cova, ao invés de ter cara de morte, parecia exalar cheiro de terra nova.
Numa das nossas orações, meu marido compartilhou comigo que estava contente com aquela experiência. Eu o vi sereno e forte, e ele não parecia estar falando aquilo pra me acalmar. Ele estava mesmo feliz. Ele se prostrava de um jeito diferente. Parecia livre. Parecia leve. 
Num primeiro momento me senti sozinha. Sabe qdo há uma lista de espera, o nome do seu parceiro é chamado e o seu não? Senti assim. 
Mas garrei na perna dele, porque é aquela, né... Se tu vai ficar legal, me leva, né... Legal por legal eu também sou, pow! Tu num me deixa sozinha aqui não. Deixa eu tocar nas vestes de Jesus também! Ah, como eu queria sarar...

Então nós resolvemos respirar. Olhar em redor, e tentar fazer o que é pra fazer qdo a alegria vai embora: cantar pro luto passar. O luto é bom é necessário. Mas se apegar a ele é contra nossa natureza de adoração. 

Então... bora!

Tínhamos de fazer alguns cortes no orçamento, porque não sabíamos quando e como aquilo acabaria.

Tivemos de dar tchau pra Gi, nossa ajudante querida.
Cancelamos as aulas de violao.
Encerramos o contrato com a escola de ingles. 

E eu tive de colocar 100% do meu coração na minha casa. Eu cozinhava. Meu marido cuidava das nossas roupas. Nós dois limpávamos. E nunca nosso papo esteve tão em dia! 

Eles se sentavam na varanda, pai e filho, pra tocar violão juntos. Agora o professor era o pai. E tenho fotos sem fim na memória, porque eu não cansava de olhar pra aquilo.

As aulas de inglês ficaram comigo. E eu não tinha ideia de quão grande era o vocabulário estrangeiro daquele menino que tinha saído da minha barriga! Que delicia! A varanda voltou a ter graca, muita graca. Era ali que a gente ouvia musicas em inglês, tentando identificar a letra, fazíamos palavras cruzadas e conversávamos muito. 

Minha cada voltou à cor. Eu ficava pensando que aquele problema não era tão importante. Porque eu pude ver o que realmente era meu. E que o que realmente era meu, era antes do meu Pai.

E que nada tinha a ver com Ele não se importar. Tinha a ver com entender que aqueles meus dias de angústia eram part de um todo maior. Eu não via. Ele sim. Eu não sabia. Ele sim. Eu tava triste. Ele feliz em me tratar. Me provar. Como o ourives faz com seu ouro mais precioso. Porque eu, a despeito de não valer nada, sou o ouro mais precioso do meu Pai.

Aí um dia a resposta chegou. Isso, rápido assim. Um dia o silêncio de fora migrou pra dentro. E havia música no ar.
O problema foi embora. Na mesma velocidade com que chegou. Dissipou que nem nuvem. E quando a escuridão virou luz, eu vi que tava tudo ali, bem diante de nós.
Nós, sempre tão seguros, vimos nossos medos virarem monstros de verdade. De
pele, osso e toga preta. A escassez chegou com cara de quem ia ficar e roubar nosso sol. Mas aí, quando o muro ruiu, o medo do futuro foi embora com ele. Deus nunca saiu de lá. 
A fumaça virou brisa fresca, e pude ver as mãos de amor do meu Pai estendida sobre nós. Ouvi a doce voz Dele no meu silêncio interior. Quanta saudade eu tava daquele amor vivo que nunca me deixou. Mas havia raízes mortas que precisavam ser arrancadas pra que houvesse vida nova dentro de nós.
Nós não entenderíamos de outro jeito.
Não renasceríamos de outro jeito.
Pagaríamos o preço de sermos lavanda ocre pra sempre. Sem morte. Sem vida. Sem recomeços. Os mesmos medos. A mesma certeza na força do nosso braço.
Continuaríamos caminhando com a enxada em riste, pouco importando se o maná viria do céu. Se não viesse, eu compraria. Só que mana comprado é melancia transgênica. Se você já comeu sabe do que eu tô falando. Não presta nem pra ter nutrientes. Que dirá pra ter sabor.
Desci no próximo sábado depois das boas novas. E o jardim novo tava pronto. Lindo. Leve. Colorido. Cada florzinha um lembrete: "Eu te amo, filha!". "Eu sempre
estive aqui". "Eu me importo". "Eu cuido". "Eu sou". 
Procurei fotos do caminhinho de lavandas mas não encontrei.
Essas fotos são do jardim novo. Olha bem pra elas. Agora me responde:
Quem tem falta do jardim antigo? Rá! Eu que não!


sábado, 8 de abril de 2017

🎶🎶 Mulé-malaviló tá aí! Mulé-malaviló che-gô! 🎶🎶

É que de tanto tu me chamar de #FranciscA, eu meio que virei meu pai mesmo. O que é fácil pq eu sou a fuça dele (meu nariz... o nariz dele... Por que, meodeos?! Por quê?!). Mas, Mama... eu virei mãe e virei você! Nos dois sentidos. Virei mãe do meu filho, e virei a minha própria mãe. Confuso, será? Não, num é. É que... puxa! Como me pareço com vc!


Acho engraçado perceber quanto de você eu tenho e sou. 

Eu acho estranho, também, pq sempre achei nós duas tão diferentes. E agora cá estou, vendo que eu sou é pura tu!

Eu amo te ver em mim. Pq sei que vc tá impregnada na minha vida por toda parte.

Eu adoro torrar no sol, feito tu.

Sinto arrepio de frio quando vejo filme com cena de gente tomando chuva. Quem mais? Quem igual?

Sou barulhenta, como tu também.

Insisto 40x pras pessoas comerem mais um pouquinho, quando mais um pouquinho é só o que (não) falta pra pessoa explodir. Quem faz isso?


Que seria dos meus dias sem você cuidando do meu filho pra eu poder trabalhar?

Quem levaria meu bebê todo dia (2x) lá no fim do mundo pra mamar?

Quem me ensinaria a fazer o melhor arroz do mundo?

Quem me mostraria sobre orar por tudo, por todo mundo, e a toda hora?

Quem me ensinaria a dizer "coitada, né?" pra todo mundo que a gente gosta muito?

Quem ficaria ditando frases de amor pro Papai repetir pra mim ao telefone quando ele me liga? ("Vai, Ki. Fala que ela é linda. Fala "eu te amo", vai, Ki!" Esse é boa, né, Pai?! Hahaha)

Quem faria o "leite mais delicioso do mundo" pra acalentar o Pipo que nem sentia saudade da mamãe quando essa mamadeirinha chegava?

Com quem o mesmo Pipo levaria papos tão interessantes hoje em dia na volta do Colégio pra casa? 


E tem mais uma coisa incrível: os lugares aos quais você me levava quando eu era criança. Acho que fui a criança que mais viajou e brincou sem sair de casa que eu conheço! Porque você é a mãe que mais fantasia e brinca com os filhos que eu conheço! Fez assim comigo. Com meus irmãos. Com nossos filhos. Roubaram covardemente sua infância, mas quem diz que você nunca foi criança? Você é até hoje! Você sempre deu pra nós aquilo que nem você recebeu. Sobrava amor, Mama!  Tinha pra nós, tinha pros nossos amiguinhos, tinha pra todo mundo! 

🎶🎶 Mulé-malaviló tá aí! Mulé-malaviló che-gô! 🎶🎶 - e peeeernas pra quem tem, pq se vc nos pegasse, encheria a gente de beijo. Isso era tão insuportável que até hoje nós 3 temos uma fobiazinha que nos apertem. E óia só pucevê: hoje nós 3 é que afogamos as nossas crianças com beijos intermináveis! Insuportáveis! Ai, quanto apertar!!! E eles odeiam!! Nós e eles = você com a gente = você com eles! Tar e quar! Seu legado em nós. E eu todinha você!


Não, não tão você assim, pq não seria possível. Você é única. 


Você deixa tudo leve, colorido, cheiroso e com música, Mama!

E me prometeu durar pra sempre! Não esquece disso!

Parabéns!

Te amo!  

sexta-feira, 24 de março de 2017

Um patrocínio NIKE. Prazer em fazer sobrancelhas.





A menina trabalha comigo há anos e começou a reparar em mim. Ficava reparando em alguma coisa enquanto eu falava. Toda vez. Percebi que ela ficava "olhando através" enquanto conversava comigo. Sabe o que é "olhar através"? É quando você tá conversando com alguém, às vezes olhando nos olhos do coleguinha, mas sem prestar atenção em qualquer coisa que ele tá falando. Você penetra a pessoa com seu olhar, a atravessa, e segue voando pra outras galáxias enquanto seu corpo fica lá e ela fala. Você até acena com a cabeça, mas seu corpo tá sem alma naquele momento. Só que aí dá aquele desespero quando seu inconsciente reconhece o tom de pergunta na última frase que a pessoa falou. Você então ouve mentalmente aquele barulho do botão rewind do vídeo cassete, e, de repente, a pessoa tá olhando pra você, esperando a resposta. Ferrou, mermão! Ferrou, você vai passar vergonha. Ninguém por perto pra te passar uma cola, e você quer responder alguma coisa que faça sentido e que esconda a patifaria de a pessoa estar há 10 minutos falando sem que você tivesse se dignado a prestar atenção em uma frase sequer! Dá um gelo, eu sei. Aí, ao invés de ser sincero e dizer que há muito tempo você num tava ali ouvindo, você quer bancar o espertão, o atento, o bom ouvinte, o meditador, o antenado, o cult, o que ama o próximo. E a pessoa, que tinha te perguntado um "e aí, faz tempo que você não vê fulano?", recebe de resposta um "sim... é verdade. Concordo. Ahãm!".

Aí você faz cara de que tá tudo normal. Seu coleguinha faz cara de "ué", mas não comenta nada. E todo mundo segue a vida.

Tudo pra dizer que depois de tanto "olhar através" eu saquei do bolso um QUE QUE FOI?! pra perguntar pra aquela menina por que tanto ela me olhava enquanto falava comigo. E ela devia estar esperando há muito tempo por esse momento, porque não deu nem pra eu terminar de falar e ela já me respondeu: VOCÊ NÃO TEM UM PEDAÇO DA SOBRANCELHA!!!!!!!!!! Arregalou ozóio e respirou ofegantemente por minutos depois de botar aquilo pra fora.

Pausa. Gelo. Confusão mental. Esperei ela voltar à cor. Como eu demorei a reagir, ela arrastou a cadeira e foi tentar se levantar. Cravei a mão dela com minha mão na mesa. E passei - de dentes cerrados - as instruções do que deveria vir a seguir: "- Ninguém sai. Ninguém move um músculo. Seja lúdica e rápida: o que tem de errado com minha sobrancelha?! Fala! Fala! FALA!!"

Percebi que eu teria que apertar menos a garganta dela pra conseguir ouvir a explicação.

E ela me explicou o seguinte: você coloca seu indicador de pé do lado do seu nariz. Se a ponta do seu indicador não tocar a ponta da sua sobrancelha é porque blakjagjhbjsahndjklsal (isso é porque eu não entendi mais nada da explicação. Nesta parte eu abstraí e voltei quando ela terminou dizendo:) VOCÊ TEM UMA IRREGULARIDADE NA SOBRANCELHA. Vulgo buraco. Vulgo pelada. Vulgo defeito. Vulgo falta pelo. Vulgo isso é quase uma caricatura.

Tudo bem, porque eu não sou do tipo sugestionável. E acho que essa moda de sobrancelha da Nike tá um pé nas ancas, gente. Que mania de massificação que as pessoas tem!! Vamos assumir nossa sobrancelha, nossos defeitos, aquilo que nos faz únicos.

Decidi que eu seguiria a vida com a sobrancelha assim mesmo.

No dia seguinte a moça bateu na porta da minha casa às 7h. Eu tava pronta desde às 5h40 esperando. Desci pegar o jornal, e o porteiro me lembrou que eu não assino nenhum jornal. Esperei ali na minha sala mesmo, jogando Candy Crush. Fazia tempo, afinal.

Então, é que eu inventei de fazer microblading. Era pra isso que a moça tava lá em casa. É o que, isso aí, afinal? Microblading = tatuagem na sobrancelha dos fios que tu num tem.

Uma hora depois, tá feito.

Eu gostei do resultado na hora. Mas aí a moça foi embora e olhei no espelho. E olhei de novo. Aí sai. Voltei. Olhei. Pisquei dum olho. Pisquei do outro. Olhei de novo. Gritei. Cortei a franja - com faca - pra esconder. Segurei no parapeito da sacada. Voltei. Olhei. Chorei. Puxei meu próprio cabelo. E olhei no espelho. E vi a bobagem feita. Tipo: peguei busão errado à meia-noite, o motorista vai me deixar - sem volta - lá naquele bairro que começa 2 horas depois do último bairro identificado pela Prefeitura, e tô sem celular. Manja essa sensação? Então. Essa.

CLARO que eu tô uma monstra!!! CLARO!!! E claro que não tem conserto! E CLARO que eu poderia bem tacar fogo no corpo e desfilar de pijama hospitalar num corredor do Mercadão Municipal. Porque daria na mesma, é tudo esquisito: essa sobrancelha nova, eu de pijama hospitalar no Mercadão, mulher casada que posta selfie fazendo carão... Tudo esquisito! Tudo!

A parte de dentro ficou ótima: ajustou minha sobrancelha certinho. Faltava mesmo o buraco que minha coleguinha de trabalho havia notado. Preenchemos os pelos que eu não tinha. Ficou super bom.

Mas na parte de fora, a que vai indo mais perto do couro cabeludo.... Creideospai, TÁ HORRÍVEL!!!! HORRÍVEL!!! Parece que eu pintei de propósito pra brincar de Festa Junina, pra assustar criancinha na rua!! Posso até postar foto, mas não dá pra ter ideia. Se eu postar foto vou ter que pegar uma Pilot preta e rabiscar a parte da sobrancelha até a tinta acabar. Ou prender duas toras de fita isolante na altura do olhar. Aí posto. Aí dá pra ter uma ideia. Ou seja: só vendo mesmo.

Pra trabalhar no dia seguinte eu tinha tido uma ideia. Eu ia pintar um dos dentes da frente com lápis de olho preto, e ia dizer que tudo não passava de uma brincadeira, e tal. O conjunto sobrancelha + dentes pintados seria uma caricaturaaa. Eeeee!!! Tô aqui pra recreação geraaal! Eeee!!!

Tava pronta pra compartilhar com meu marido essa minha iniciativa para com os coleguinhas do trabalho, até que, ao chegar em casa, ele abre a porta e me olha. Só que não através. Me olha de olhar mesmo. Fixamente. Alguns segundos. Aí ele pisca e pergunta: "ISSO AÍ vai sair, né? Me diz que ISSO AÍ é temporário. ISSO AÍ sai com água e cloro, né? Sai com Vaporetto?! Sai com o lado verde da esponja com Sapólio e força, né?", e foi se afastando de mim. Com medo, eu acho.

Uns minutos depois ele disse que se acostumou. Me abraçou, tal. Não quis jantar naquele dia, mas não sei se tem alguma coisa a ver. 6 acha que tem?

Enfim, só me resta esfolar minha cara no asfalto pra ver se arranco isso num peeling forçado no concreto. Ou, alternativamente, posso sentar e chorar.

A moça que veio aqui fazer o microblading até postou uma foto do antes e depois do meu procedimento. Fica lindo de ver! Mas aqui, olhando, tá muito ruim! E não é culpa da profissional não. Ela é ótima. Eu aprovei o pré-desenho no meu rosto, tudo certinho. Ela é incrível, tem um traço perfeito. Acreditem: é a melhor, dentre todos os profissionais que eu pesquisei.

Ficou ótima minha sobrancelha nova. Mas o borrão é a minha cara, eu acho. Então não ornou, sabe?

(Aviso: se alguém passar aqui dizendo que eu quero confete... Olha... eu juro que.... Eu juro!!!!!!!!!!)

Mas enfim, a pergunta é: POR QUE MEXE?!?!? POR. QUE. MEXE. NESSA. CARA.

Enfim, só quis vir aqui desabafar. O que num adianta nada, claro, mas eu vim, uai.

Agora só faiz favor, tá? Quando me encontrar, TENTA não focar a íris dos seus olhos SÓ na minha sobrancelha, ok? Vamos falar de outras coisas. Eu sou mais do que um rosto borrado na multidão. E tenho outras histórias. Posso te contar, por exemplo, do dia em que meu cabelo pintado de loiro-tinta-barata-comprada-no-mercado-do-Seu-Toninho ficou verde. Fica bonzinho. Não foca na sobrancelha. Aí um dia eu conto historinha nova.



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Atualização importante: esse texto aí já tem algumas semanas. Demorei pra postar. A verdade é que agora eu já me acostumei com a sobrancelha, e tô me achando linda. Tanto que, se eu não fosse casada, postaria uma selfie fazendo carão. Rá!

quinta-feira, 16 de março de 2017

Cadê a mulé da pamonha?!

Marquei consulta para as 16h de hoje. Programei tudo pra sair mais cedo do trabalho. Liguei no consultório meia hora antes para confirmar se os atendimentos estavam no horário. Chego lá, e, após 53 minutos de espera, levanto e vou embora sem ser atendida. Curiosamente, desta vez a culpa parece não ter sido totalmente do médico. O paciente anterior entrou na consulta às 15h00 pontualmente. É uma clínica particular, com atendimentos de em hora. 

Massssss.... E DAÊ?! Ele, o paciente, tem um problema. Pára tudo: ele tem um problema! Eu não, no caso. Eu só tárra lá pq 1x por semana eu saio pa vida pa atazaná as pessoa. É o que eu faço.


Eu precisava dessa consulta pra resolver umas parada séria aí. Num deu. Entrei toda paquita, arrumada, de salto. Saí espumando, descabelada, ensanguentada, cas roupa rasgada, me arrastando e gritando. Por dentro tudo isso, claro, mas tava tudo assim mesmo.


Montei mil cenas de ataque à sala do médico.

Numa eu ia de clássico: metia o pé - de salto! - na porta, pararia com uma mão pro alto, segurando na porta, e tacaria um: VAI DEMORAR?!?!?!


Na outra, eu tacaria o mesmo pé na porta e, ato contínuo - com as duas pernas encavaladas: POR FAVOR, ONDE É O TOILLETE?


Na outra eu entraria, sentaria calmamente, e pediria 1 minutinho pro paciente: FICA AQUI, QUERIDO, TENHO NADA PA ESCONDER NÃO. É RAPIDINHO, FAÇO MINHA CONSULTA, QUEM SABE TU ATÉ DÁ SUA OPINIÃO, TAL, AÍ SAIO E TU CONTINUA AQUI, TU E O DOTÔ. 


Numa outra cena eu entraria armada e faria a secretária de refém. Mas essa achei meio forte e não consegui desenvolver um diálogo. Aí pulei e vi que estava ficando meio fora de controle a coisa.


Então me levantei calmamente, peguei meu cheque de volta, e saí.

Na saída trombei com uma mulher vendendo pamonha. Num súbito comprei duas pa ajudar. Num súbito quase entrei de novo no consultório. Num súbito tive outra ideia brilhante de esparramar pamonha na cara do infeliz que roubou minha consulta. A outra pamonha eu ia comer mesmo (pra quem achou que eu tacaria no médico).


Saí pra rua de novo, e dei a pamonha pra um menino que esperava o ônibus. Sei lá, ele olhou a pamonha e eu, sei lá porque, achei que ele quis. Ele aceitou. Dei as duas e ele me chamou de SENHORA na hora de me agradecer.

Peguei as pamonhas de volta.

Lembrei que tinha escovado os dentes e que tinha horário com meu dentista em vinte minutos, num ia dar pra comer mesmo. Voltei e devolvi as pamonha. Ele fez cara de "agora num quero", mas eu devo ter soltado uma chama tão acesa pelos olhos que ele, com a franja faiscada, pegou as duas pamonhas e, com a voz trêmula, disse que nunca viu uma SE-SE-SENHORA tão bonita na vida dele.

Acho que o pessoal do consultório o socorreu, sei lá.


MORAL DA HISTÓRIA: ao irar-se, sente-se, abra seu celular, e escreva uma história (com fatos reais, outros nem tanto). Grandes chances de você não pecar.


Se bem que... Ei!!! E esse dentista aqui, gente?!?!?! VINTE E SEIS MINUTOS DE ATRASO?!?!?! Cadê a mulé da pamonha?!?!?!? 

sexta-feira, 10 de março de 2017

A infância acabou!

"Oi, bom dia. Tudo bem? Pode fazer a minha ficha, por favor? Eu vim PARIR!"


A moça fez minha ficha, e eu fui me sentar com o Papai. Eram 7h, você nasceria as 12h23. 3,785kg. 48cm E MEIO. 


Você disse que gosta dos meus textão. Se mentiu, aprende a não fazer isso de novo porque agora já era: escrevi um todinho pra você! Rá! (brincadeira, meu amor! Eu acredito porque vejo que você gosta mesmo).


Bem, lá na sala de espera de te parir eu pensei num mundo de coisas. O engraçado é que a sala de espera de uma maternidade é igual à sala de espera de qualquer lugar. Tem um bebedouro de água ruim, um cafezinho, telefone tocando, duas atendentes uniformizadas, uma TV no Encontro com Fátima Bernardes, gente entrando, saindo, reclamando, umas fileiras de cadeiras, perfume fedido, mulheres sentadas com a bolsa no colo... umas coisas assim. Naquele dia, naquela sala de espera, tinha uma meia dúzia de mulheres com gente dentro. Era a diferença daquela sala de espera pras outras.


Fiquei bastante tempo sozinha ali, pq o Papai tinha algumas providências a tomar. Enquanto ele tava ali comigo ele fez carinho na minha mão, tão fofo e solidário. Mas quando eu achei que ele fosse rasgar aquela voltinha entre o dedão e o indicador da minha mão esquerda, eu inventei um shampoo imaginário pra ele procurar no carro. Até ele voltar dizendo que não achou era tempo de eu pedir um gelinho pra enfermeira. E um anestésico local também, porque a qualquer momento ele podia voltar, e a voltinha do meu dedão tinha de estar pronta pra outra. Se ele tava nervoso? Não, uai. Claro que não. Defina "nervoso" e termine o papo diretamente com ele, tá?


Mas bora voltar à sala de espera. Aquela sala de espera era um portal. Eu entraria uma. Sairia outra. E não tinha a menor ideia disso.

Que maluco, filho! Um dia você vai saber! A gente sem ter filho é um. Depois que tem, é outro.


Mas não é tanto sobre a "passagem" o nosso papo hoje, neste seu aniversário de 13 anos. O papo hoje é sobre e a sala de espera mesmo. 

Porque enquanto o Grande Dia não chega, é aonde nós estamos: numa graaaande sala de espera. Você já tá nela já há 13 anos e alguns meses. Se nada mudar os planos, você deve ficar por muitos e muitos anos ainda. 


Só que agora que sua infância formalmente terminou, sua sala de espera é um mundo de possibilidades. Uaaaaau, filhoooo!!! Quanta coisa pela frente!!! 

Você tem um mar de escolhas e decisões que começam a ser tomadas agora. 


E penso aqui, como mãe, nas características que você tem, que Deus escolheu de acordo com os propósitos que Ele tem pra você. É, a gente tem propósitos enquanto está na sala de espera. Estamos estudando sobre isso com nossos amigos, né?


O que vem agora é uma sequência de " eu acho" de coisas suas que eu acho que tem a ver com seus propósitos. Os "eu achos" de mãe costumam ser precisos e acurados. Mas não são taxativos (significa quero sua listinha não termina na minha). Mas queria escrever, porque vai ser legal olhar pra ela daqui a alguns anos.


Eu acho você lindo. Lindooo! Ai como eu te acho lindo!!! (sim, estou gritando, pronta para repentes de pura violência contra você). E o seu olhar... ah, o seu olhar. É engraçado que, se vc pegar as cartinhas que eu escrevia pro seu pai quando ele morava em SP (ele tem todas, sabia?), todas falam do "olhar vesgo" dele. Tá, a sorte é que o conjunto ajuda e ele tem dentes, e tal - ou não teria muita graça ser vesgo. Mas Deus sempre soube que o olhar do seu pai me dava gelinho na barriga, e me trouxe você exatamente com o mesmo olhar!!!!!! Como pode?! Ele pode!


Eu te acho um agregador de turmas. Você junta os povos. As turmas de diferentes convívios. De diferentes idades. Tem sempre um misto de povos que se conectam à sua volta. Isso não necessariamente tem a ver com vc, ou porque vc é fofo (só a mamãe te acha fofo, nunca esqueça disso!) mas observe: isto é por alguma razão. Pode ter certeza: é parte do seu propósito.


Eu acho que você tem habilidades manuais e talento para música. Essas coisas preveem conserto, criação, alegria e cura. Observe. Tem a ver. Observe.


Eu acho que você é focado. Tem objetivos. E vai até o fim nas coisas que começa ou que planeja. Isso é raro. Muito raro. Observe. Tem a ver.


Você sempre vem pra perto quando o Papai e eu estamos cantando ou orando. Parece a abelhinha e o pote de mel. A gente nunca precisou te chamar. Você vem. Você sempre está. Observe. Observe.


Você é engraçado, de piada rápida, e folgado. Muito folgado. É... acho que isso não tem muito a ver. Mas observe também. Num custa.


Você ama os velhos. Parece ter uma consciência prematura de que vai ficar assim um dia. Você os ama, conversa com eles mesmo que não os conheça, presta atenção. Eu observo, e é lindo de olhar.


Você é incrivelmente obediente, filho. É peitudinho, argumentador, por vezes é chato pa daná, mas é curiosamente MUITO obediente. Eu sei que sua adolescência tá só começando, e daqui pra frente você pode questionar muito sobre qual ordem quer seguir. Mas esta é uma marca sua. É bom observar. É bom deixar anotado. Você é. Sou eu, sua mãe te dizendo isso.


Tanta coisa pra pensar, né, filho.... mas a sua sala de espera é um mundo de possibilidades.


Ao se observar e fazer escolhas, a grande questão aqui é que todo dia, ao preencher a sua fichinha, vc vai ter que responder sobre o que está fazendo ali. Na minha vez, eu respondi: "vim parir". Lembra? Era o meu propósito naquela sala de espera.


Na sua sala de espera, filho, essa pergunta tem que ser respondida todos os dias. No seu mundo de possibilidades, você tem que juntar suas características e saber a que veio. 


E nossa conversa de ontem me mostrou claramente que você já tem uma boa ideia das suas respostas. Vou deixá-la registrada aqui, porque acho que foi a sua primeira fichinha já preenchida: 


"Mãe, quando eu escolher a minha profissão, quero que a pessoa sentada à minha frente olhe nos meus olhos e reconheça que eu sou de Deus. O resto eu faço". 


“Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês’, diz o Senhor, ‘planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro.”

Jeremias 29:11


Deixa anotado, filho. Porque o resto é só um parêntese mesmo.


Hj é dia de celebrar. De observar. E de se alegrar muuuuito em Deus por quem você é Nele. 


Amamos vc, nosso pioiento preferido!


Hoje te pego. Te espremo. Te como com pão! Me aguenta! Por sorte e/ou por azar, essa é a mãe que tu tem!