quarta-feira, 5 de julho de 2017

Doilão e um pacote de arroz caramelizado

Meu professor me contou naquele dia que era aniversário de 9 anos da filhinha dele. Suspirei de saudade dos 9 anos do meu filho. E ele, meu professor, quis saber o que tanto mudaria dos 9 aos 13. 
Uai... mas que pergunta mais fácil, de resposta mais óbvia. Dã!!!!
Eu tenho saudade porque... 
Na verdade as fases mudam, e o que muda é que...
É que, se a gente pensar bem...
E numa reflexão ainda mais profunda, a gente vê que o que muda mesmo é... 
Boa!!! Isso aí, amigão!!! Não sei responder. 
Eu tenho uma dorzinha que deve ser saudade. Ou é alguma coisa perto disso. Ele, meu filho de 13 anos, tá diferente. Mas no quê, afinal?! O que mudou!? Do que eu sinto falta?!
Eu não fico sentindo saudade do passado. Não sou desse tipo.
"Ai, porque naquele tempo..."
Ah, gente... naquele tempo naquele tempo. Passou. Já foi. Boa.
A única coisa do passado que eu queria é colágeno na cara. Só.
Não coleciono cartinhas e memórias. Tenho memórias até de menos, aliás. O suficiente pra ter esperança. E só.
Eu sou muito intensa. Pra mim é hoje. É tudo. É muito. É muito de tudo. É agora. Amanhã não sei. Ontem passou.
Então, tenho lembranças incríveis de cada fase do meu filho, mas não sinto aquela saudade que cutuca a alma da gente que nem unha encravada no inverno. É aquele gostosinho que dá quando a gente olha foto da infância pobre no Bairro Alto, sabe? 
Mano do céu... porque eu não sei tu, mas aqui era uma pobreza que tu certamente respeitaria.
Esses dias eu fucei a mochila do menino e achei um monte de nota de doilão (doilão = R$2) espaiada. um monte. Cheguei juntar doze real, mermão. Doze real em notas de doilão amassadas. Esquecidas. Sujas. Tão desvalorizadas quanto aquele montinho de notinha inútil de crédito/débito que ficam no console do carro quando a gente abastece o tanque.
Meodeos, quanta diferença na realidade de uma geração pra outra... Ah, se eu tivesse doilão nas tardes da infância na Alfredo Guedes pra descer no seu Toninho e comprar um pacotão de arroz caramelizado... Doilão era ouro! Se fosse naquela época a mulé sem zoio da cédula não ia ter aquela cara de sofrência não. Ela ia é sorrir esnobe, tipo blogueira patrocinada, de tanto valor que ia ter na minha mão. 
Eita, mai do que a gente tava falando mesmo!?
Ah, sim. Do menino. De sentir saudade. De não sentir saudade. Do que tá diferente agora.
Eu gostei de estar grávida. Amei ter tido um bebê. Curti muito cada segundinho da infância do meu menino. E agora tô curtindo de verdade ser mãe de um menino grande.
Tô aprendendo sobre essa autonomia, na verdade. Eu sou quase tão livre quanto eu era antes de ser mãe, e ainda estou me ambientando com não ser mais tão importante. Sempre repito pra ele a mesma máxima: "Filho, você tá aprendendo a ser adolescente, e eu tô aprendendo a ser mãe de adolescente. Nunca tive um filho de 13 anos antes. Você é minha primeira experiência, e é em campo. Bora juntos: tenha paciência comigo. Tenho com você. E seguimos na parceria".
E tenho paciência mesmo. De verdade. Sempre fui muito longânima como mãe. Eu lembro, quando ele era pequenininho, de ter ouvido um sem-fim de vezes a expressão "nossa, como você tem paciência, né...", que eu sempre soube querer dizer outra coisa. Quando alguém dizia isso eu sabia que era a versão publicável do "porque você não dá uns tapas e pendura de cabeça pra baixo esse menininho insuportável que poderia abastecer uma vila inteira de pescadores em Noronha com o tanto de energia que dele emana", sabe... Eu sei que era isso.
Mas eu nunca achei que ter energia era um problema. Repreendia meu filho quando ele faltava com a educação, ou quando ele fazia algo que pudesse machucá-lo. De resto, sempre entendi as fases. Sempre entendi o movimento (sem fim) da infância. Alguma coisa dentro de mim sempre me avisava que aquilo ia acabar. Como, de fato, acabou. 
Não tem mais correria aqui em casa. Nem brinquedo espalhado. A briga agora é pra organizar (os escombros d) o quarto, mas não tem mais movimento e barulho. Até tem, claro, mas é menos. Muito, muito menos. É diferente.
Então... se eu sou esse poço de controle do tempo e das emoções (Ui! Ela não sente saudade! Ui! Ela não se abala! Ui! Senhora do Tempo! Ui! Dona de Si! Ui! Gretchen!), então porque suspira quando o fio dozôtro faz aniversário de ser criança?
O que, afinal, dá o gostinho amargo no gostosinho de ver o filho crescer?
Ele ainda mora comigo. Ainda tá debaixo das minhas asas. Ainda controlo, vejo e sigo. Ainda fazemos tantas coisas juntos. Ele ainda deita na nossa cama pra assistirmos seriado: ele, o papai e eu. Ainda me conta as coisas. Ainda oramos juntos. Ainda me acorda na madrugada quando alguma coisa aflige seu coração. Ainda sentamos juntos pra fazermos nossas refeições.
Ainda amamos estar na presença um do outro. 
Então o que é? O que falta? Onde dói, afinal?
Pensa... pensa... pensa... peeeeensa, diacho! 


E quer saber? Eu descobri!
Descobri onde dói. Descobri o que dói. Eu sei o que é!
A coisa difícil de ver filho crescer é...
ver o filho pecar! É isso! 
De pequenininho eles erram. Abusam. Afrontam. Mas não pecam. Não deliberadamente. São pequenos pecadinhos acidentais, impensados, sem relevância jurídico-penal-celestial.
Grandes, estreiam nessa vida bandida de lutar pra ser santo todo dia. Tu luta!? Poutz! Eu luto! Tu lutas! E nem deu tempo de 'ele luta' e eu tô aqui, lutando de novo!
Só que, nessa fase, começam a pecar e não fazem tanta força contrária assim. Não tem tanta noção prática nem de um lado - o de pecar - nem de outro - o de lutar pra não pecar.
E assistir a isso é difícil. É amargo. Da insegurança. Causa dor. Desconforto na alma. Sensação de impotência.
Agora cada vez mais é entre ele e Deus.
Ainda oramos juntos. Temos devocionais diários em família. O exemplo de vida dele é um grande homem de Deus que nós dois amamos e admiramos (o pai, meu marido, meu amor). Masssss... sim: é entre ele e Deus. Nas férias ele passa noites no computador. É entre ele e Deus. Ele vai em lugares em que não estou. É entre ele e Deus. Ele em um celular. É entre ele e Deus. 
Uns poderiam pensar que não confio no que fiz por/com ele até aqui.
(aliás, poutz... se tu pensaria isso tu é um chato nível hard, tá? Chato nível Zorra Total. Saiba disso). Eu confio. Mas seria o mesmo que dizer que eu peco porque Deus não fez o trabalho Dele direito comigo.
Ele fez. Ele faz. Mas eu peco. Desde os 13 anos eu peco. Há momentos que peco mais. Outras épocas sigo bem. Mas vou assim até Aquele Dia.
Logo ele vira adulto, e vou ter ideia de onde deu tudo isso.
Mas esse interim é difícil, te garanto.
Eles descobrem que tem asas, que podem ir e vir, que podem ter opinião, e que podem fazer um monte de coisa escondida que a gente nunca vai ficar sabendo.
Então, enquanto assisto influencio no que eu consigo em relação às coisas que acredito. Tenho minha própria vida com Deus, no íntimo. No meu secreto. Em casal. E ele vê, ele sabe.
Não tomo e não sirvo refrigerante pas visitas. Ele vê, ele sabe. E oramos pelas refeições quando os amigos estão em casa.
Na vez dos meus netinhos (que terão de ser 3 pra compensar a penca de filhos que não consegui ter) eu vou saber te contar onde essa história deu, meu filho! Só vou querer saber que você ama o seu Criador. No resto a gente da jeito. Quem sabe te sirvo um arroz caramelizado enquanto falamos a respeito.

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