Academia do prédio. Eram seis minutos de transport (quem faz transport nessa vida? É… Eu faço transport!) E ela entrou. Entrou, não. Ela estreiou!!! Abriu a porta num solavanco, e entrou dando um boa noite bem alto. Estava toda equipada num corpo nada malhado. Mas era bem magrinha, bem bonitinha mesmo. Simpática, simpática. Eu, embora exibida e extrovertida, nunca sou capaz de chegar num lugar e conversar logo de cara com quem eu não conheço. Então, sempre sou fã de quem faz isso.
Ela chegou com tanta marra e tanta parafernália numa roupa de treinar tão incrível, que eu super tive a certeza de estar diante de uma autoridade de crossfit ou algo parecido. Qualquer coisa que ela falasse nesse sentido eu acreditaria. Largou as bugigangas todas em cima do rack de som, e logo soltou: "Oi! Como vão? Vocês são uma familia? Olha, eu nunca venho nessa academia… Nunca!", num ar de isso aqui é amador demais pra mim.
"Vocês moram aqui faz tempo? Treinam SÓ musculação mesmo (seus à toa - se pudesse ela diria, acho), ou fazem alguma outra coisa (que preste nessa vida, senti assim)?"
De todo modo, fui respondendo às perguntas porque tava achando graciosinha aquela conversa de vizinhas. A moça era sui generis, mas, como eu já disse, era bem simpática. E eu, que sempre me apaixono pelas pessoas no 2º minuto de conversa, já tava meio entregue.
Mais meia dúzia de frases e ela subiu na bicicleta ergométrica. Dois giros no pedal, e pediu se poderia ligar a TV. "ESSE SILÊNCIO ME MATA!" (tá em maiúsculo pq ela sempre falava gritando).
Na verdade não tava silêncio... devia estar é muito chata aquela conversinha despretensiosa do casal de 40tões, né... Casal de 40tões = nóis, Marcelo e eu. Rá! Vai que alguém não saiba! Rá!
A Multishow tocava uns videoclipes bizarros, mas alguns deles eu reconhecia, fazer o quê. Tenha filhos adolescentes e você vai pagar a língua de um monte de coisa na vida.
Reconheci uma musiquinha que a Alice canta de vez em quando, e perguntei bem baixinho pro meu marido quem eram aqueles três na TV. Bem baixinho. Bem. Mas, pro meu gelo na espinha a vizinha lascou: "NÃO CONHECE?! ANITTA, NEGO DO BORÉL E WESLEY SAFADÃO! ESSA É A PORCARIA DA CULTURA POBRE DESSE PAÍS POBRE!!!"
Reconheci uma musiquinha que a Alice canta de vez em quando, e perguntei bem baixinho pro meu marido quem eram aqueles três na TV. Bem baixinho. Bem. Mas, pro meu gelo na espinha a vizinha lascou: "NÃO CONHECE?! ANITTA, NEGO DO BORÉL E WESLEY SAFADÃO! ESSA É A PORCARIA DA CULTURA POBRE DESSE PAÍS POBRE!!!"
Pra escapar, tentei colocar a culpa na Alice: "... é que já ouvi minha sobrinha de 3 anos cantando, e..."
"SUA SOBRINHA?!?! TRÊS ANOS??!?! COITADA!!!"
Ela tava ali, esbaforida no 6º giro da bicicleta (não tô falando de 6 voltas, 6 laps, como a gente faz na aula de spinning, não. Tô falando de giro: pé num pedal, pé no outro, e gira: 1, 2... 5,6!). Fiquei meio sem reação… Sorri com cara de choro, já fez essa cara?
Olhei pro meu marido que, por sua vez, já me sinalizou com o olhar: me tira fora dessa conversa. Dali pra frente eu teria de inventar os diálogos sozinha.
Tinha hora que eu achava que ia ver aquelas cenas de filme, que a pessoa começa a falar, falar, que a rotação da fala vai subindo, a voz vai ficando fininha e rápida, rápida, a cabeça começa a rodar em eixo, sai fumaça, e a pessoa explode. Sabe essa cena? Achei que eu ia ver.
Não eram nem 10 os giros na ergométrica e ela desceu. Subiu na esteira. Não conseguiu ligar. Desceu, deu a volta, socou um botão aqui, outro ali, e a esteira - sorrindo com cara de choro - ligou. A vizinha subiu na esteira e me perguntou se eu tinha WhatsApp. Me contou que ela criou um grupo de vizinhas sem filhos no WhatsApp. Achei legal, e perguntei o propósito do grupo. Pela primeira vez ela tomou um ar no diálogo. Aí disse, meio sem certeza, que tá tentando organizar um chá de vizinhas desde que criou o grupo. Achei fofo até ela me contar que não se lembra do rosto de ninguém que ela adicionou. Ela perguntou se eu queria fazer parte. Suada (de medo!), respondi que sim. Nem 30 segundos de esteira depois, ela deu um trote, uma corrida mais rápida, e desligou o aparelho! Desceu. Pegou a toalha, enxugou um suor que eu não vi, e foi pra máquina de treinar pernas. Socou, esticou, puxou, arrumou, desarrumou, colocou peso, tirou peso, fez barulho, prestou atenção na minha conversa com o Marcelo, deu palpite, trocou o peso de novo, e, enfim sentou.
Não eram nem 10 os giros na ergométrica e ela desceu. Subiu na esteira. Não conseguiu ligar. Desceu, deu a volta, socou um botão aqui, outro ali, e a esteira - sorrindo com cara de choro - ligou. A vizinha subiu na esteira e me perguntou se eu tinha WhatsApp. Me contou que ela criou um grupo de vizinhas sem filhos no WhatsApp. Achei legal, e perguntei o propósito do grupo. Pela primeira vez ela tomou um ar no diálogo. Aí disse, meio sem certeza, que tá tentando organizar um chá de vizinhas desde que criou o grupo. Achei fofo até ela me contar que não se lembra do rosto de ninguém que ela adicionou. Ela perguntou se eu queria fazer parte. Suada (de medo!), respondi que sim. Nem 30 segundos de esteira depois, ela deu um trote, uma corrida mais rápida, e desligou o aparelho! Desceu. Pegou a toalha, enxugou um suor que eu não vi, e foi pra máquina de treinar pernas. Socou, esticou, puxou, arrumou, desarrumou, colocou peso, tirou peso, fez barulho, prestou atenção na minha conversa com o Marcelo, deu palpite, trocou o peso de novo, e, enfim sentou.
Então, disse que tinha um grupo de funcional que treinava na blablablá as blablablá todas as blablablá da semana. Perguntou se eu e o Marcelo gostaríamos de nos juntar ao grupo. Disse que duas vezes por semana era muito pouco pra ela, mas que o grupo era bem legal e que a gente tinha que conhecer. Depois de três empurradas em cada perna, ela desceu da máquina. Colocou um colchonete no chão, e se movimentou de um jeito estranho três vezes. Levantou e agachou mais três vezes. Olhou pra nós dois e disse que tinha terminado o treino. Meu transport marcava 24 minutos.
Pegou as tralhas, deu boa noite no espacinho que dava pra ver ozóio dela e saiu.
Sem pegar meu WhatsApp.
Fez tudo e não fez nada.
Nem treinou. Nem fez amizade com a gente. Nem deu conta de todas as lições que queria nos ensinar em 18 minutos.
Vai trombar com a gente no elevador e nem vai saber que nos falamos um dia.
Não é o que a vizinha é ruim. Ela não é. Ela é ótima, aliás. É o que ela mostrou DE MIM!!!
Não sei se, no termômetro dela, tem alguma coisa errada. Vai ver tá tudo bem. Aliás, ela parecia muito bem resolvida e contente. Eu é que olhei pra ela e me vi em alguns dias em que só meus dois buraquinhos do nariz estão pra fora tentando respirar afogados na correria.
Só que eu tenho dado um jeito nisso. E já tem um tempo. É um pouquinho todo dia. Tem sido tão gostosinho baixar a rotação da vida...
Quando eu paro, eu sou grata a Jesus. Quando sou grata a Ele, eu O amo. Quando eu O amo, eu confio e descanso Nele. E esse ciclo fecha.
Sempre fecha assim.
Então eu volto. Retrocedo. Subo pro meu andar. Desligo tudo e faço um chá. Não de cápsula Nespresso. Um chá de chá mesmo, que tem que esperar a infusão e esfriar pra ficar pronto. Um 'tea neighbor inspired'! (essa é pra tu colocar no Google translator, Dad! Haha! 💙)
Chamo meus homens. Sirvo uma xícara cada um. E desfruto do extraordinário poder do comum!
Obrigada, vizinha! Sua passagem relâmpago foi meu treino de alma do dia. De verdade.
Não me chama no WhatsApp que eu sou muito ruim de responder. Mas sei fazer um chá de flor de laranjeira que é uma belezura!
(só traz seu açúcar que aquincasa num tem).
#desacelera #menosémais #oextraordináriopoderdocomum
#slowdown #contemplaçãoécura #meuPaifaloucomigo
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