segunda-feira, 10 de março de 2014

O grande dia - parte II (final)

Quando assisto ao vídeo do nascimento do Pedro eu sempre rio quando percebo que não foi só minha Mãe que sofreu catatonia. Vejam aqui que a câmera digital nas mãos do Marcelo também ficou sem função enquanto ele olhava o filho pelo vidro:



(minha sogra, tão querida, entre cumprindo o papel de Mãe, acarinhando o filho, e o de Avó, espiando feliz da vida o neto pelo vidro também...)

A verdade é que ele (Marcelo) completaria 30 anos daqui a algum tempo, e nunca havia carregado um bebê recém-nascido na vida. Nunca, nunquinha. Então, eu tava com uma pontinha de curiosidade pra saber como seria quando eles, pai e filho, se encontrassem pela primeira vez.

Era umas 17h e trouxeram o bebê pra mim. Já não tava mais sujinho. Macacãozinho azul de gola branca. Dormindo. Eu não cansava de olhar. Não podia levantar, mas sentia uma saudade enorme dele. Pedi à enfermeira que o colocasse deitadinho na cama comigo. E eu olhava pra ele... olhava... olhava.




Soube que começariam as visitas, e que o pai já estava lá, esperando pra entrar. Seria nossa primeira conversa com a nossa criaturinha ali na nossa frente. Mas não teve conversa nenhuma!

Marcelo entrou no quarto e nem me olhou. Passou pela porta e, ato contínuo, espalhou um bocado de álcool em gel nas mãos, nos braços, e sem pensar, sem perguntar, sem treinar, sem calcular, sem respirar, catou suavemente a cria nos braços com uma destreza que me deixou em leve choque. Olhou o Pedro dele... olhou... e numa das cenas mais lindas que eu já vi, ele cheirou o bebê longamente. Aproximou o rosto do rostinho dele e ficou sentindo sua respiraçãozinha com os olhos fechados.

"Como você é lindo, filho...". E ficou assim, por um tempão.

Sem querer parecer piegas (embora seja), enquanto eu assistia àquilo eu me apaixonei por ele de novo. Mas muito mais. Agora não éramos mais um casal. Éramos uma família. Senti uma coisa forte, como que um entendimento de "macho-fêmea-cria". Tão selvagem e tão racional ao mesmo tempo. Tão humano e tão espiritual. Ele como meu marido era lindo, mas ele como pai do meu filho era simplesmente o homem mais perfeito que eu já tinha visto na vida! Meu Deus, quanta sorte eu tinha de estar ali. Quão bem aventurada Deus me fez por tudo aquilo que eu tava vivendo naquela hora.

O Senhor nos empresta o dom da criação! UAU! Só porque nos ama muito, Ele nos faz um pouco parecidos com Ele nessa hora. 

Foi quando o Má me olhou. "Você tá feliz, amor? Tá bem? Você tá com um semblante tão lindo..." (nota: ainda bem que ele deixou claro que tava falando pontualmente do semblante, porque esteticamente eu tava mesmo é um lixo... um caco! Quem fica diva depois de uma cesárea, minha gente?)

Os olhos dele brilhavam tanto... sabe que eu até o enxerguei mais fortão naquela hora? Hehehe... Uma parte era sugestão, sem dúvida. Outra parte era o que é: era o meu homem ali, com o nosso fruto nos braços. E eu não poderia trocar aquele momento de vida por nenhum outro. Só na eternidade vou conhecer algo maior, e tenho plena convicção disto.


"Coincidentemente" a enfermeira entrou no quarto um tempo depois e me avisou que eu tinha que colocar o bebê pra mamar! Uau! Era já? Com o pai ali e tudo? Ah, meu coração...

A enfermeira me ajudou a sentar, e me deu um medinho de aquilo não dar certo. Num tem fadinha cintilante na primeira amamentação também? O Má me deu o bebê e sentou ali do meu lado. Eu tinha tido umas quinhentas aulas sobre amamentação. Peguei dicas. Vi livros. Orei. Me graduei a respeito. Mas meu bebê veio pronto. O talento era dele. Minha criaturinha nasceu PhD em tetê. E ali ele ficou, das 19h às 21h, servindo-se do seu primeiro banquetinho. Certinho. Na primeira pega. Mamou. Suou. E dormiu...

E de mim vi sair mais do que leite. Eu era bem aventurada. De mim saía virtude... só podia ser! De tudo o que eu não prestei - e não presto! - pra fazer na vida às vezes, pra ser mãe eu precisava apenas da graça do Pai. E Ele tinha me concedido aquilo. De graça. Sem merecimento. Sem mérito prévio. Ele me deu. 

Hoje, 10.03.2014, exatos 10 anos depois, acordamos antes das 06h da manhã e fomos arrumar um café com as coisas que ele mais gosta: panquecas com caramelo quente e ovos quentes servidos na casquinha. Enchemos bexigas, espetamos velinhas num muffin de chocolate, e o pai foi buscá-lo na cama. Cantamos "parabéns", e o Zé não parou de latir ardido até que o pegamos no colo. Ele também queria participar!




Um abraço coletivo, uma oração preciosa do pai, e aí, enquanto comíamos, a pergunta: "Filho, se você pudesse pedir um presente de aniversário a Deus agora, e pudesse escolher qualquer coisa que quisesse nesta vida, o que você pediria?"

Pensou um pouquinho. 

"Que eu pudesse hoje dar um abraço em Jesus".

Tem valido a pena. Ele não é nosso, afinal. É Dele.



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