sexta-feira, 21 de março de 2014

Eu só quero um filho se for pra sair grávida na Caras!!!


Imagem: https://www.facebook.com/sociedaderacionalista

Vi esta imagem compartilhada na página de dois amigos no Facebook. Achei tão lindo que quis compartilhar também.  Mas aí, enquanto eu escrevia a respeito, comecei a me estender... e achei melhor vir fazer o comentário aqui. Afinal, aqui a casa é minha. Eu falo o que eu quiser.

No FB também a casa é minha, mas aqui, no blog, as pessoas precisam efetivamente clicar pra entrar. E só vem se querem. No FB a gente meio que faz xixi com a porta aberta, né... Então aqui a porta é fechada. Quem quiser, que bata e entre.

Sobre a adoção, uma vez minha manicure me disse que a mulherada fica tentando engravidar por anos a fio porque elas são vaidosas. "Por que não adotam?", ela me perguntou.

Fiquei chocada com a frieza dela em comentar aquilo, a princípio. Mas depois pensei melhor... e melhor... e cheguei à conclusão de que existem, SIM, as "mães cosméticas". É o que eu acho. 

As "mães cosméticas" querem o glamour da barriga. Querem chá de bebê. Book gestante com foto de cabelo esvoaçante e sapatinhos de crochê da cor do sexo do bebê sobre o barrigão. Querem mostrar à sociedade que ela e o marido batem um bolão: são férteis e saudáveis! Uau! Querem ser paparicadas. Querem festa. Querem a Caras fotografando a saída triunfal da maternidade. Olha: nada de errado até aí. Eu amei me sentir poderosa amamentando meu filho Pedro em público. Eu também queria tudo isso aí. E tive. 

Mas fico pensando: ou é isso ou é nada!? Ou gero um filho mostrando pro meu marido o quanto ele é macho porque me fecundou, ou envelheço sem construir uma família?!

Fato é que há mulheres que simplesmente NÃO engravidam. Seja por um diagnóstico médico de infertilidade no casal, seja por qualquer outro motivo que a ciência não explica, há mulheres que não ficam grávidas. Neste caso, as "mães cosméticas" precisam entender que há algo sobrenatural naquilo que nossas avós sempre disseram: "Mãe é a que cria". Em outras palavras: filho é filho, miagente. E ele vai ser sempre gerado por uma mãe. Seja pela barriga física, seja pela barriga espiritual. Seja, ainda, pelas duas.

Engravidei do meu filho na primeira tentativa. Primeira, primeirinha. E no Dia dos Namorados de 2003. Poutz... mais fadinha cintilante, impossível. Ah, quer saber do que mais? Descobrimos a gravidez no dia 14 de julho de 2003, quando fizemos 8 anos de namoro (já éramos casados há 3). Ó!! Mais novelinha romântica do que isso, só a Lagoa Azul! Quase impossível! 

Mas hoje, 10 anos depois, a conversa é outra! Fiz todos os exames possíveis e não há nada de errado comigo. Nem com meu marido. Estamos ótimos e saudáveis, mas eu simplesmente não fico mais grávida! Não consigo! Estou na 19ª tentativa frustrada. Némolenão, pode apostar! Então, não se atreva a pensar que estou aqui escrevendo só do problema dos outros. Estou escrevendo do meu também. Desejar engravidar e não conseguir é uma experiência pra lá de amarga. E imagino que isso deva ser milhões de vezes mais amargo pra quem não tem nenhum filho. Eu já sou mãe. Isso deve diminuir sensivelmente meu sofrimento. Nem me atrevo a me comparar com as outras. Seria injusto.

Só que tem uma coisa: se eu não tivesse um filho, e tivesse a mesma dificuldade de engravidar que tenho hoje, não teria dúvidas: ADOTARIA. Sem pensar. Sem esperar anos a fio. Aliás... quem sabe eu não faça isso.

Você pode pensar que falo isso porque é sempre mais fácil falar. E é.

Acontece que eu tenho um sobrinho adotivo que é o amor da minha vida. Ele veio pra nós quando tinha 2 anos e meio. Não veio bebezinho não. Já era grandinho. E não sei quando foi a última vez que pensei que ele não era sangue do meu sangue. Aliás... ele não é? Experimente alguém mexer com ele pra ver se há alguma diferença entre judiar dele ou judiar de algum de meus outros sobrinhos que tem o mesmo sangue do meu filho. Tô sendo honesta: ele é meu. Aliás, ele não é meu: EU SOU DELE. Sou dele exatamente no mesmo tanto que sou dos meus outros 5 sobrinhos. Mato e morro por cada um. E boa. É assim que é.

Ah, e quer outro "aliás"? Foi por causa dele, meu sobrinho adotivo, que meu marido, que NÃO QUERIA TER FILHOS, decidiu que queria sim um filho pra ser dele.

Enfim, esta não é uma crítica a mulheres que não querem ter filhos, embora esta seja uma opção que me causa muito, muito estranhamento.

Esta é uma crítica clara às minhas amigas e conhecidas que estão há ANOS sofrendo e chorando porque "Deus não as permite dar à luz um filho". É só pra pensar que talvez o problema não esteja, exatamente, no colo Dele.

Deus quer sim nos fazer mãe de filhos. É assim, ó: 




(Legenda: "Senhor, por favor, fale comigo")

A Bíblia diz que os filhos são HERANÇA. A herança é SEMPRE partilhada em partes IGUAIS entre os filhos. E somos TODOS filhos do Pai. Logo, a menos que você abra mão da sua parte, você tem direito a ela. Tendo direito, cada mãe, cada filha do Pai - que desejar - pode ter uma herança, um filho. Pronto. A conta é essa. É assim, simples.

Não tô dizendo que tomar a decisão de adotar é fácil. Eu não sou assim tão leviana. Mas fico pensando: você vai deixar de ver sua cria sujar de molho de macarrão a roupa nova nos almoços de domingo só porque você não tem uma cria que nasceu da sua barriga?

Não justifica. Ah, mas não MESMO. Não vai ter dado nem 5 minutos do momento em que tiver começado a sua maternidade pra você exclamar: "Por que não fiz isso antes"? 

Vai, miafilha! Entra logo na fila da adoção. Afinal, não é drive thru, viu? Você vai ter 2 ou 3 anos de espera até ter uma resposta de algum Juizado. Até lá, Deus pode fazer um milagre e te dar uma barriga. Mas se Ele não der, Ele vai te fazer o mesmo milagre: vai te tornar mãe. E aí você vai ver que Ele é Deus de milagres. E você vai, de novo, agradecer à sua avó: ela tava certa. Como sempre.

Faça de tudo pra engravidar. Sou a favor de tudo, tudo mesmo. Sou a favor de dobrar os joelhos dia e noite, de procurar especialistas, de fazer tratamento, de ficar com as pernas pra cima depois de ter relação. Sou a favor de fertilização, de inseminação, de coito programado. Sou a favor de tudo. Gerar um filho dentro da gente é a coisa mais absurdamente grandiosa que pode acontecer com uma mulher. Mas ser mãe É MAIOR!!

Faça de tudo e, pacientemente, espere. Ah, como é difícil. Como é difícil esperar... Cada vez que menstruo eu olho pro céu e fico em silêncio. E meu Pai celestial sabe o que eu penso. ("Outro "não" eu não aguento..."). É o que eu sempre penso. Aí eu aguento, e começo tudo de novo. E de novo, e de novo.

Mas se você ainda não tem filhos, e tudo isso aí já é uma espera de anos, com diagnósticos que não te são favoráveis, repense. Adotar não é abortar sua missão de fé. Pelo contrário: é um passo além. Em direção a ela.



PS.: Depois de algumas horas de postado este texto, uma contibuição priceless da minha prima Vivian! Não deixe de assistir: http://gnt.globo.com/viver-com-fe/noticias/_-Minha-gravidez-foi-na-alma---diz-atriz-Alexandra-Richter.shtml'Minha gravidez foi na alma', diz atriz Alexandra Richter

segunda-feira, 10 de março de 2014

O grande dia - parte II (final)

Quando assisto ao vídeo do nascimento do Pedro eu sempre rio quando percebo que não foi só minha Mãe que sofreu catatonia. Vejam aqui que a câmera digital nas mãos do Marcelo também ficou sem função enquanto ele olhava o filho pelo vidro:



(minha sogra, tão querida, entre cumprindo o papel de Mãe, acarinhando o filho, e o de Avó, espiando feliz da vida o neto pelo vidro também...)

A verdade é que ele (Marcelo) completaria 30 anos daqui a algum tempo, e nunca havia carregado um bebê recém-nascido na vida. Nunca, nunquinha. Então, eu tava com uma pontinha de curiosidade pra saber como seria quando eles, pai e filho, se encontrassem pela primeira vez.

Era umas 17h e trouxeram o bebê pra mim. Já não tava mais sujinho. Macacãozinho azul de gola branca. Dormindo. Eu não cansava de olhar. Não podia levantar, mas sentia uma saudade enorme dele. Pedi à enfermeira que o colocasse deitadinho na cama comigo. E eu olhava pra ele... olhava... olhava.




Soube que começariam as visitas, e que o pai já estava lá, esperando pra entrar. Seria nossa primeira conversa com a nossa criaturinha ali na nossa frente. Mas não teve conversa nenhuma!

Marcelo entrou no quarto e nem me olhou. Passou pela porta e, ato contínuo, espalhou um bocado de álcool em gel nas mãos, nos braços, e sem pensar, sem perguntar, sem treinar, sem calcular, sem respirar, catou suavemente a cria nos braços com uma destreza que me deixou em leve choque. Olhou o Pedro dele... olhou... e numa das cenas mais lindas que eu já vi, ele cheirou o bebê longamente. Aproximou o rosto do rostinho dele e ficou sentindo sua respiraçãozinha com os olhos fechados.

"Como você é lindo, filho...". E ficou assim, por um tempão.

Sem querer parecer piegas (embora seja), enquanto eu assistia àquilo eu me apaixonei por ele de novo. Mas muito mais. Agora não éramos mais um casal. Éramos uma família. Senti uma coisa forte, como que um entendimento de "macho-fêmea-cria". Tão selvagem e tão racional ao mesmo tempo. Tão humano e tão espiritual. Ele como meu marido era lindo, mas ele como pai do meu filho era simplesmente o homem mais perfeito que eu já tinha visto na vida! Meu Deus, quanta sorte eu tinha de estar ali. Quão bem aventurada Deus me fez por tudo aquilo que eu tava vivendo naquela hora.

O Senhor nos empresta o dom da criação! UAU! Só porque nos ama muito, Ele nos faz um pouco parecidos com Ele nessa hora. 

Foi quando o Má me olhou. "Você tá feliz, amor? Tá bem? Você tá com um semblante tão lindo..." (nota: ainda bem que ele deixou claro que tava falando pontualmente do semblante, porque esteticamente eu tava mesmo é um lixo... um caco! Quem fica diva depois de uma cesárea, minha gente?)

Os olhos dele brilhavam tanto... sabe que eu até o enxerguei mais fortão naquela hora? Hehehe... Uma parte era sugestão, sem dúvida. Outra parte era o que é: era o meu homem ali, com o nosso fruto nos braços. E eu não poderia trocar aquele momento de vida por nenhum outro. Só na eternidade vou conhecer algo maior, e tenho plena convicção disto.


"Coincidentemente" a enfermeira entrou no quarto um tempo depois e me avisou que eu tinha que colocar o bebê pra mamar! Uau! Era já? Com o pai ali e tudo? Ah, meu coração...

A enfermeira me ajudou a sentar, e me deu um medinho de aquilo não dar certo. Num tem fadinha cintilante na primeira amamentação também? O Má me deu o bebê e sentou ali do meu lado. Eu tinha tido umas quinhentas aulas sobre amamentação. Peguei dicas. Vi livros. Orei. Me graduei a respeito. Mas meu bebê veio pronto. O talento era dele. Minha criaturinha nasceu PhD em tetê. E ali ele ficou, das 19h às 21h, servindo-se do seu primeiro banquetinho. Certinho. Na primeira pega. Mamou. Suou. E dormiu...

E de mim vi sair mais do que leite. Eu era bem aventurada. De mim saía virtude... só podia ser! De tudo o que eu não prestei - e não presto! - pra fazer na vida às vezes, pra ser mãe eu precisava apenas da graça do Pai. E Ele tinha me concedido aquilo. De graça. Sem merecimento. Sem mérito prévio. Ele me deu. 

Hoje, 10.03.2014, exatos 10 anos depois, acordamos antes das 06h da manhã e fomos arrumar um café com as coisas que ele mais gosta: panquecas com caramelo quente e ovos quentes servidos na casquinha. Enchemos bexigas, espetamos velinhas num muffin de chocolate, e o pai foi buscá-lo na cama. Cantamos "parabéns", e o Zé não parou de latir ardido até que o pegamos no colo. Ele também queria participar!




Um abraço coletivo, uma oração preciosa do pai, e aí, enquanto comíamos, a pergunta: "Filho, se você pudesse pedir um presente de aniversário a Deus agora, e pudesse escolher qualquer coisa que quisesse nesta vida, o que você pediria?"

Pensou um pouquinho. 

"Que eu pudesse hoje dar um abraço em Jesus".

Tem valido a pena. Ele não é nosso, afinal. É Dele.



O GRANDE DIA => 10.03.2004 / parte I


“Amor, acorda. Hoje é dia de ganhar nenê!”

Mas, na verdade, o Má já tava acordado. Sei lá se ele dormiu aquela noite inteira. Eu dormi. Dormi pesado e sonhei que o Pedro tinha nascido e que eu tinha esquecido a malinha da maternidade em casa. 

Banhão, e ganhamos a rua. Ainda parecia tudo surdo. Eu tava com a sensação de que tava tudo acontecendo em câmera lenta. Como se eu estivesse assistindo a um filme.
Chegamos no hospital antes das 7h. Má foi cuidar da papelada e eu fiquei ali, sentada. Tinha uma meia dúzia de barrigas além da minha por ali. Eu tava com uma sensação esquisita, mas tão gostosa. Eu tinha esperado tanto aquele dia... 

Entramos numa salinha e eu coloquei uma camisola rosa. O fotógrafo entrou, fez nosso cadastro e avisou que iria filmar o parto. Quando ele perguntou o nome do bebê nós respondemos simultaneamente: "Pedro Munhoz" (eu). "Pedro Azanha Munhoz" (o Má). O fotógrafo olhou com aquela cara de "dá pra decidir?". A verdade é que até aquela hora nós não havíamos conversado sobre aquilo. Pra não prolongar a discussão, ficamos assim:




Mas aí, no dia de registrar a criança tava chovendo, e o Má desceu do carro sozinho em direção ao Cartório. Ele ganhou a discussão por "W.O." (ou à minha revelia, pra ficar mais técnico), e hoje o Pipo é o "Azanha" no Colégio. Ironias da vida! Hehehe...

Bem, sei lá quanto tempo se passou mas agora é a lembrança de estar deitada na maca, sendo conduzida à sala de cirurgia. Tava estranhamente relaxada. Uma pontinha de ansiedade, claro, mas tava muito, muito tranquila. Com a sensação de ter anjos à minha volta. E tinha, certamente.

A sala era muito iluminada, claro. Aquele clarão em cima de mim... tipo abdução, mesa de aliens, experimento alienígena. Mas enxergar minha Mãe ali, no meio de todo mundo, me fez achar que eu tava vendo o sol! Que alegria sem tamanho! Ela mandou fazer uma camiseta especial pr'aquele dia. Tão linda. 




Me colocaram um trequinho de oxigênio meio incômodo no nariz. Esquisito, porque eu tinha na cabeça aquela imagem de filme, sabe? Achei que pra gente parir ficavam fadinhas cintilantes voando na sala e parteiras com aventais do século XVIII me esperando com um pano quente nas mãos. Não era assim. Era uma cirurgia. Parecia que não combinava. Mas de repente eu tava sentada, e o médico passou um treco gelado nas minhas costas. Era o antisséptico. Eu ia tomar uma picada na coluna... Ui!! Bem da ardida. Mas tá, dava pra seguir. A agulhona que veio depois não doeu, mas fez uma pressão de arrancar o ar. Acho que foi a má-impressão, porque realmente tava tudo muito bem. 




Prenderam meus braços. Ah, que coisa chata! Mas era praxe. Bem, ao menos devia ser, porque minha Mãe conhecia aquela rotina há 30 e poucos anos, e tava muito tranquila conversando com a equipe ao mesmo tempo que me fazia cafuné e sorria, sorria, sorria.

Meu obstetra entrou e beijou minha Mãe. O auxiliar dele, que havia sido meu médico desde os 18 anos, perguntou: "Mara, o que é aquela folia lá na sala de vídeo? Tem torcida organizada pra assistir o seu neto nascer? Parece filho de artista!". Eu nem tinha ideia de que tinha tanta gente lá. Minha Mãe sabia, e me deu um sorrisinho com um ar de falsa modéstia. Ela tava firme no cafuné e com a câmera digital em punho. Mas a câmera não serviu de fato pra muita coisa, porque quando viu o neto ela ficou, digamos... totalmente catatônica. Ah... e quem não?  

Uma enfermeira muito querida e amiga da família me relatava minuto a minuto o que tava acontecendo. Eu ouvia sons de coisas metálicas batendo, e o apitinho do monitor que indicava o andamento da minha saúde e do bebê. As pessoas conversavam animadamente sobre diversos assuntos. Eu não tava exatamente prestando atenção na conversa, porque, afinal, continuava tudo em câmera lenta. Tinha um pano verde na minha frente, como uma cortina. Eu tava meio incomodada com aquilo, porque eu queria lugar de camarote pra assistir ao espetáculo. Aí a enfermeira-amiga, que devia ser um daqueles anjos que eu comentei, acomodou com carinho minha cabeça tensa - que tava em pé em cima do pescoço - e mandou baixarem o pano. Ela sabia que eu queria ver meu bebê no primeiro fôlego. 

Ouvi um "E lá vem!" de alguém. Senti que me chacoalharam um pouco. E de repente... o chorinho. 

Pausa nos meus batimentos cardíacos. Na minha respiração. Pausa ou hiperaceleração. Sei lá. Eu gelei. Era ele... era o meu Pedro!! Levantaram um pedacinho de carne ensanguentado. Dá aqui!! Me dá!! É meu!!! Sai todo mundo, eu quero ficar a sós com meu bebê... rs! Eu pirei! Acho que tive aquele impulso de lamber a cria. A gente é bicho, né?



Não tinha mais câmera lenta. Senti como se eu fosse um glóbulo na corrente sanguínea. Uma correnteza, uma onda gigante. Senti pulsar tudo dentro de mim. Senti uma vida oxigenando tudo: minha cabeça, meus sentidos, minhas emoções. Um fôlego. Um sopro. Um trovão. Uma coisa muito forte, como nunca senti antes.

E aí, quando acho que não dá pra sentir nada maior do que aquilo, meu pedacinho é trazido pra junto de mim. Chorando. Berrando. Quase gritando, pra falar a verdade. Eu olhei e era a hora de nos conhecermos. "Então você que é o meu Pedro"? Foi a primeira coisa que eu disse a ele. "Oi, meu amor. Eu sou sua mamãe. E tô aqui pra você. Pra sempre". E aí ele fez um esfoço sobrehumano pra abrir os olhinhos, mas não conseguia. Ele queria me ver. E foi ficando calminho. Até que... parou de chorar! Ele parou de chorar ao ouvir a minha voz.

A enfermeira-anjo soltou as amarras dos meus braços e colocou minha mão sobre ele. E assim eu o acariciei. E disse a ele que não precisava mais chorar porque a mamãe tava ali, o papai tava lá fora, e o Papai do céu estava em toda a parte. E na Terra e no Céu nós iríamos viver pra cuidar dele dali em diante. 

Era o maior amor que eu sabia sentir. Tão gente. Tão bicho. Tão sobrenatural.

E naqueles minutinhos não houve mais choro. Ele havia entendido tudo. Tudinho.







domingo, 9 de março de 2014

Era a véspera!! E eu não sabia bem se queria correr pra frente ou pra trás...

Era 09/março/2004 e seguimos pra aquela que seria a última consulta com o obstetra. E até aquela hora eu não sabia disso.
"É, Karina e Marcelo, agora já não podemos esperar mais. Daqui pra frente a espera passa a significar riscos desnecessários a uma gravidez que veio tão saudável até aqui. Internaremos amanhã às 7h. Chegou a hora do Pedro nascer!"

Oi?! Alôu!! Como?!?! Amanhã?!?! Como assim?!?! Sem avisar antes?! Ah, tá. Eu tava justamente aprendendo sobre isso: nem tudo na vida dá pra marcar na agenda com antecedência.

(enquanto escrevo aqui eu me lembro e me emociono tanto... como se estivesse acontecendo tudo neste exato momento...)

Senti um arrepio esquisito e um pelote de choro me veio à garganta. Fiquei com vergonha de chorar na frente do médico. Entrei no carro depois da consulta e desabei...

"Amor! Amanhã nossas vidas vão mudar pra sempre! A gente vai ver o nosso Pedro!"... Tava muito muito muito emocionada. O Má, numa mistura de tensão, emoção e mais uma meia dúzia de coisas que sei lá o que eram. Mas ele tava quieto, e me passava muita tranquilidade. Muita segurança. Então, eu só queria ficar perto dele.

Fiquei com a sensação de que o dia tava surdo. Parece que tudo parou. Eu não ouvia nada, era como se não tivesse movimento à minha volta. Uma sensação esquisita. Meio surpresa... Meio emocionada... Meio assustada. Meio tudo.

A gente chegou em casa e então tinha dia e hora pra eu ver aquele berço com gentinha dentro. Ô, meu Deus... é amanhã!!!!!

#há10anos

sábado, 8 de março de 2014

08.03.2004: e se ele nascesse no "Dia da Mulher"?

Tudo bem. Mas eu sempre achei sacal essa conversa de "Dia da Mulher"!
Pô!
Dia da Árvore.
Dia do Índio.
Dia da Mulher.
Ah, tem dó! "Além da homenagem ser bem da descabida, não vai combinar se ele nascer hoje".
Era só o que eu pensava.
Por outro lado, eu tava naquela crise de "nasce-num-nasce" e de "o-que-o-mercado-vai-pensar-de-mim"!
Como posso num ter controle de tudo?!
É, num tinha. Tava grávida. Pra parir. Tudo pronto e a criança não nascia. Nem tudo estava sob meu controle. Grande lição eu aprendi ali.
#há10anos

sexta-feira, 7 de março de 2014

Era domingo, e não pedia cachimbo. Pedia só pro bebê nascer...

O que mais acontecia aos domingos era ficar gente em volta do meu barrigão antes, durante e depois dos cultos. Eu ganhava tanto carinho... Ganhava cafuné... Ah, era tão bom... E, obviamente, tudo isso acabou 5 minutos depois que meu filho nasceu. Todos os carinhos e cafunés do mundo agora seriam pra ele. 
Enfim era dia 07, e tava muito, muito calor. Eu não aguentava comer mais nada e na última consulta soube que perdi 800gr. Deve ter sido algo mais do que isso, considerando que o bebê não parava de ganhar peso.
Fui olhar pela 15879154 vez a malinha dele. E aí uma amiga abençoada foi me perguntar se eu tinha lavado as roupinhas com sabão de coco. Oi?!?! Tem que lavar roupinha de nenê antes de usar?!?! É sério isso?! Bem... meu Pedro tá aí pra provar que ninguém morre se usar roupinha suja ao nascer. No dia seguinte eu completaria 41 semanas de gestação, e não ia fazer malabarismo no tanque meeeesmo! Aliás... 41 semanas e nada de ele nascer. Tava me dando uma aflição aquilo... Eu não queria fazer cesárea, mas meu hospedeirinho não dava sinais de desalojar.
Ele já mexia tão pouquinho dentro de mim que eu achava que alguma coisa tava errada. Tava nada, devia é estar um aperto enorme ali. Mas, por via das dúvidas, os plantonistas de maternidade enjoaram de ver minha fuça. Cada vez que eu cismava, corria pro hospital. Ouvia o coraçãozinho dele e voltava pra casa feliz. 
Mesmo com todo aquele peso extra e calor, eu só dormia se o Má passasse um braço por cima de mim. 
#há10anos

quinta-feira, 6 de março de 2014

Já era sábado, 06.03.2004

O médico e as palpiteiras tinham recomendado tomar sol nos tetês pra evitar rachaduras. Era o que eu fazia todo sábado de manhã, mas eu sentia que aquele era o último.
(bem, a verdade é que não era muito difícil de "sentir" aquilo: já era a 40ª semana. Não iam sobrar muitos sábados pela frente).
Mas naquela manhã, no banho de sol, eu inventei uma musiquinha diferente. Na verdade eu fiz minha própria versão de "O meu chapéu tem três pontas" e criei a "O meu bebê é bonzinho". Faz o teste aí e você vai ver que a letra se encaixa perfeitamente na sonoridade:


"O meu bebê é bonzinho
É bonzinho o meu bebê
Se ele não fosse bonzinho
Não seria o meu bebê".

E aí fui trocando o "bonzinho" por todas as palavras e situações que eu queria que meu bebê fosse, ou que acontecesse com a gente. Tipo "o meu bebê dorme à noite", "o meu bebê é inteligente", "o meu bebê ama a Deus", "o meu bebê é calminho", e por aí fui inventando musiquinha pra tudo de bom que eu queria que acontecesse na vida dele. E fiquei ali, horas cantando (e torrando o tetê).
Até a hora que os meus desejos bons pararam de combinar com a música, como na hora em que eu fui cantar "o meu bebê não tem cólica e come toda a papinha"!
#há10anos 

quarta-feira, 5 de março de 2014

6a.feira, 05 de março de 2004

Na 6a.feira eu acordei feliz porque era o meu último dia de trabalho. Mas ao final da tarde, me emocionei muito ao ir pra casa, e acho que fiquei confusa com as coisas que eu tava sentindo. Afinal, o que eu ia fazer com tanto tempo livre? (bobinha, né... rs! Mas foi o que eu pensei). Era a 1ª vez que eu ficava tanto tempo em casa desde os meus 13 anos!
Ao contrário de muitas grávidas, eu tava dormindo um sono bem pesado nos últimos dias. Digo: nos intervalos entre um xixi e outro eu dormia pesado. E tava passando bem, super bem. Tinha azia e só. Mais nada de ruim. Ah, e tinha aquela canseira de quem não consegue respirar, né... Enfim, cheguei em casa, e me emocionei de novo olhando pro bercinho dele. Eu tinha essa mania, a de chegar em casa e parar no quartinho dele pra ficar olhando o bercinho. Ficava imaginando ele ali e sabia que isso tava muito, muito perto de acontecer. Naquela 6ª feira eu fiquei mais tempo olhando tudo aquilo e pensando... pensando... Sentei na poltrona que minha sogra me deu pra amamentar, e passava a mão no barrigão enquanto cantava pra ele. 
‪#‎há10anos


Na foto, a Mére (que hoje é a mãe da Valentina) e eu. É a única foto do meu barrigão... Um dia eu conto o motivo.

Em 04 de março de 2004...

Era 5ª feira, e eu tava arrumando minhas gavetas, acertando mensagens automáticas e organizando as últimas providências pra minha licença-maternidade. Já era a 40ª semana. Não tinha mais ar, a produção era de 1 xixi por minuto, e parecia não ter mais pra onde esticar minha barriga. Há qualquer momento ele poderia nascer. 
#há10anos