sábado, 2 de abril de 2016

Sobre a mudança => LE GAVETEIRO

Acho que a cena mais esquisita foi a daquele homem parando em frente à minha casa, carregando o gaveteiro do Pipo descuidadamente na camionete, e seguindo adiante.

Atrás dele eu ia com meu carro, com uma vontade imensa de buzinar até ele parar. Quando ele parasse, eu ia subir no capô do carro dele e dar barraco, pô! Eu ia berrar que "onde já se viu o senhor pegar o móvel do quarto do meu filho desse jeito?! Foi desenhado pelo arquiteto, feito sob medida!! Devolve isso já!! Essas gavetas guardaram o material escolar dele por 7 anos! Todo santo dia ele tomava pito por não organizar a papelada jogada aí dentro! Não, senhor, para com isso! Séloco?! Devolve issaí que não é seu! Aliás, quem deixou o senhor entrar na minha casa?!!"

Mas, meodeos... Péra. Na verdade eu deixei ele entrar. E eu deixei ele levar o móvel.

Não, péra. Não é que eu deixei. Deixa eu explicar.

Eu aluguei minha casa anterior. Ela é (está) nossa, Deus nos deu (emprestou), e nós moramos lá por 7 anos. Mas a gente desejou mudança, e assim fizemos: nos mudamos. 

O novo inquilino pediu pra fazer algumas mudanças (não obrigatórias) na casa, e uma delas era que ele queria se desfazer dos móveis planejados do quarto do menino. 

Ah, claro que foi estranho concordar com isso. Mas mudança é mudança. Aqueles móveis foram planejados com carinho pra época em que moramos lá. Mas agora, em tese, sairíamos da casa pra não mais voltar. Ou pra voltar só no futuro, bem lá na frente. Então, dissemos sim. Alias, é sempre como eu penso primeiro: por que não um sim, né?

Um dia, um móvel novinho. Feito pra nós, pro quarto do menino, pra casa novinha. No outro, era um porta-bagunças. No "todo dia", um pouquinho de história guardada no móvel, que a cada dia ficava menos novinho. E no final de tudo, virou só um catadão de madeira sem utilidade (pra nós, ao menos) jogado na caçamba de uma camionete, sem que alguém estivesse se importando com isso. E não era pra estar mesmo. Porque até pra um móvel de quarto há um ciclo: começo, meio e fim. E aí, gaveteiro amigo, acabou pavocê, fio! Obrigada por tudo e sucesso aí na sua nova empreitada.

E esse foi nosso primeiro contato com tantas lições que teríamos depois disso; todas pra nos ensinar, na prática, aquilo que lemos, 'aprendemos' (??) e ensinamos a vida toda: nada é nosso de fato. Nada aqui é seguro. Nada nesta vida é pra sempre. Não temos controle nenhum sobre nada. Nada de nada mesmo.

Soa meio amargo dizer que essas coisas são lições, e tal. No fundo acho que é amargo mesmo. Essas experiências tem aquele tom de "Oi. Meu nome é Salomão e eu tô aqui, farto da vida escrevendo Eclesiastes". Mas as lições tem dado frutos doces pra nós 3 aqui em casa. No meio da lágrima, que é salgada, e da lição, que é amarga, tem o docinho suave de sentir Deus no controle. Não é sentir, eu acho. É saber. Isso, é saber: Ele está no controle. 

E se todas as perdas dos últimos dias tem sido pra aprender mais sobre isso... ah, toma aqui o outro gaveteiro também. E pó levá o criado-mudo junto.

#assimnaTerracomonocéu

Quem sabe volto aqui nos próximos dias e conto mais.
😃


(Aqui, então, o gaveteiro:


A foto é antiga e não tem nada a ver com a postagem, claro. É que foi a única foto que achei do gaveteiro. Esse dia aí foi bem legal: cheguei de surpresa pra almoçar em casa e catei os dois jogando! E minha mãe sempre foi boa de video-game!)

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