sexta-feira, 8 de abril de 2016

08 de abril. Meu pé chato que nem o dela.



Eu sou a cara do Papai, né, Mama? (bendito nariz de bola! Mas pelo menos vou demorar pra ter cabelo branco!)

Então eu nunca fiquei procurando muitas semelhanças entre nós duas. Achei que num tinha.
Mas, Mama do céu!!! Que coisa engraçada! O tempo tá passando e eu tô cada dia mais parecida com vc!

Olha se não: sou eu que ‘acordo’ minha casa todo dia. Eu sou a galinha, a primeira a acordar. E arrasto o chinelo e TUSSO de manhã, iguar que nem você!! Ah, e faço cafezinho preto também. Quando os meninos acordam já tem cheirinho de café pela casa. Como quando eu acordava e quem fazia o cafezinho era vc.

Eu não gosto de chocolate. Nem de refrigerante. Como vc.

Gosto de coisas azedinhas, na verdade. Tudo bem temperado. Tudo de muito! Prato cheio pra mim... prato cheio pas visita... prato cheio pra todo mundo! Assim que eu gosto.

Eu sou elétrica. Não tenho parada da hora que acordo até a hora que durmo. E tenho sono cedo, muito cedo. 

Ai, como eu tenho dó! Eu morro de dó de tudo e de todo mundo. Ai, que saco isso! Tenho dó do menino do semáforo, da tia X com problema Y, da florzinha que passa o dia no sol... Ai, pelamordedeos, que dó! Cuitada... Cuitado... Ai, que dó!

Eu finjo que não sei que fulano tá brigado com cicrano e me meto na história sem que nenhum dos dois desconfie, só pra fazê-los se reconciliarem (só deixa eu te avisar que entre meus irmãos e eu essa sua tática nunca dá certo, tá? A gente SEMPRE SABE qdo vc tá armando essas coisinhas ‘contra’ nós. Então para com isso! Não dá certo cunóis, Mama, tenha isso sempre em mente).

Eu páro pra ver árvore de ipê florido na rua.

Eu pergunto as coisas pra pessoas desconhecidas como se as conhecesse há muito tempo.

Eu grito quando tô feliz.

Minha bolsa é bagunçada e sempre tem uns farelos que eu nunca sei daonde vieram.

Meus sobrinhos são como meus filhos. 

E eu tenho um pé chato e feio pra burro. Esta, aliás, acho que é a única semelhança física que eu tenho com você. Ah, tenha dó, não?!

Tá vendo?! Eu me pareço muito com você, sim. Mas não chego aos seus pés, Mama! Não chego aos pés da sua fé, e do seu amor pelo outro. Seja o outro quem for. 

A gente pega carona no seu jeito de crer. É engraçado, e o Dedé e eu falávamos hoje mesmo sobre isso: sempre que qualquer um de nós tem algum problema, você nunca apresenta uma solução estratégica como sugestão pra nós. O que você faz no meio do conflito é sempre a mesma coisa: “Vamos orar, filha(o). Deus sabe. Deus tem o melhor. Deus conhece. Deus vê. Deus ouve. Deus isso. Deus aquilo”.

E aí, até não ver o problema acabar, você sempre aborda a gente do mesmo jeito: “Hoje o Papai e eu oramos por você(s).” E é a pura verdade: vocês oram mesmo! Nossa vida é reflexo da fé que você tem. Porque quando tudo termina, a sensação é a de que as coisas voltaram à ordem graças à sua fé! Uau, né?

Eu me lembro de sempre ver sua casa cheia de gente. Mesmo quando a gente passava a semana comendo bolinho de arroz (porque por semaaaanas a fio aquilo era só o que tinha: bolinho de arroz! O banquete de sábado era uma saladinha de tomate naquele oásis de feijão  + arroz + bolinho de arroz. Ô, secura!), tinha gente comendo na sua mesa. E não faltava nada, nunca. Sua despensa tem uma torneira que não fecha jamais! Chame de maná. Chame de pão-de-cada-dia. Mas não falta. Nunca vi faltar. E olha que já os vi em apuros, hein?!

E você ama os outros de um jeito tão incrível. Os almoços de domingo têm um caprichinho pra cada um de nós: filhos, netos e visitas. Porque é do que vc se alimenta: de servir.

Então, Mama, eu me pareço com vc sim. Mas tô muito, muito longe de “te ser”. 

Esses dias vimos uma foto dessas modinhas de “minha mãe, minha rainha”, e perguntei pro Pedro se eu era a rainha dela. A resposta veio sem pensar: “Não, mãe. Você é a princesa. Minha rainha é a Vó”!

Isso, filho! Vc tá certo! Ela domina tudo! É a nossa rainha mesmo!

Fica pra sempre comigo, Mama! Você me prometeu!

Deus te abençoe e te guarde. Te amo até o infinito!
Parabéns!
Sua Francisca

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