Eu raramente tenho nhaca de 2ª. Mas amanhã acho que eu vou ter. Então, hoje é domingo (pede cachimbo! Dã!), e já comecei a escrever, porque em caso de nhaca amanhã, eu já fiz uma pré-analise da nhaca, e já vou estar mais aliviada. E aí provavelmente amanhã eu não vou ter nhaca de 2ª feira.
Minha nhaca de 2ª feira quando dá é assim: eu abro os olhos e antes mesmo de abrir os olhos eu pego meu celular e vejo se tem alguma noticia, algum WhatsApp que me segure na cama mais um pouco.
Então, ato contínuo já penso nas estratégias:
- Oi, chefe. Sou eu. O varejão vai atrasar minhas compras, e tenho de ficar aqui esperando.
- Oi, chefe. Sou eu. Minha empregada sonhou que vai ficar presa no elevador. Just in case, vou ficar aqui do lado de fora esperando por ela pra subirmos de escada juntas e de mãos dadas.
- Oi, chefe. Fiz xixi na cama.
Enfim. Penso em mil alternativas mas nunca nada extraordinário acontece nas madrugadas de 2ª feira (5h40 esse trem apita).
Aí fico pensando que, mesmo que eu tivesse uma Tia que se perdeu na fazenda dela em Minas e precisa da minha ajuda pra ser resgatada (Tia Zu, mantenha meu número nas emergências, tá?) na 2ª de manhã, eu ainda assim não poderia ficar na cama e chegar no trabalho só quando passasse a nhaca, porque eu levo o menino na escola. Eu poderia contratar uma van? Poderia revezar com mãinz vizinhas? Poderia estar por aí matando e roubando? Poderia tudo. Mas esperei até o 6º ano (nossa antiga 5ª série, se você é do sistema antigo) pra poder levar pessoalmente o menino na escola e ser uma mãin capa da Pais & Filhos. Então não, não dá.
Mas vamo que eu conseguisse um táxi blindado com uma motorista fofa de óculos, formada em Pedagogia e Medicina, com recreação waldorfiana e frutas frescas pra levar o menino de manhã.
Ainda assim teria de levantar 5h40, porque gosto de ir pra academia com meu marido cedinho, arrumar a lancheira e a marmita dele, fazer o café dele, e tal. Eu poderia lá lá lá lá e roubando e matando e lá lá lá? Poderia. Mas fico o dia inteiro depois pensando em como eu poderia ter sido linda e sexy na academia pra ele de manhã e não o fiz (na verdade nem quando eu vou eu fico linda e sexy), e agora ele vai chegar cansado à noite, e que raio de companheira eu sou, e afffff! Que preguiça de mim! Levanta e vai que dá menos trabalho.
Pensei em tudo isso e revirei tanto na cama que se a lavanderia viesse hoje me levaria junto e me jogaria na máquina embolada no cobertor. Aaaaaah, olhaí!!! Eles bem podiam fazer isso na 2ª de manhã, hein?!
-Oi, chefe! Você não vai acreditar quando eu contar!
Bem, agora já dormi e já ganhei a rua. Aqui já é 2ª, aliás. Fiz tudo isso aí em cima, e a nhaca me mandou um WhatsApp dizendo que hoje não vem porque vai ficar na cama até mais tarde: amanheceu feliz demais pra atormentar ozôtro.
A caminho do colégio fiz devocional com o menino que leu isso aqui pra nós no carro: “Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus. Pensem bem naquele que suportou tal oposição dos pecadores contra si mesmo, para que vocês não se cansem nem desanimem.”
Hebreus 12:1-3
Leu com sono, mas leu. Nos semáforos eu complementava a leitura.
Aí fomos pra academia, e suamos juntos o treino nosso de cada dia (você pode até pensar numa cena romântica, os dois suados, ui, e tal. Mas na vida real o que acontece é que, depois do treino, ele sobe pelo elevador, eu pela escada, e a gente só se fala de novo depois do banho, que é pra não perdermos a amizade).
Aí chego no meu trabalho, e eu tô sentada na cadeira pra qual eu olhava há 15 anos e imaginava nunca ser possível pra mim.
Aí meu coração tá grato, e percebo meus olhos fitos em Jesus, como sugerido pelo menino uma horinha antes.
Aí sorrio. Nhaca, passa amanhã. Ou tenta.